[RP] Apascentando os carneiros às margens do Sado

Beatrix ali deitada, ouvia o silêncio ocupado por sons tão harmoniosos e agradáveis, sons do vento nas folhas, da cantiga do rio, da água batendo nas pedras e da voz de Fitz, que soava tão agradável aos seus ouvidos como a mais bela das melodias.

Ela sentiu a mão dele na sua e também fechou os olhos, sentido a afetuosa carícia em sua pele.

- Sim, você já disse, mas é sempre bom ouvir isso novamente.

Ela disse e sorriu diante da primeira pergunta e ouviu com satisfação o que Fitz segredou-lhe. Beatrix riu-se também e as risadas de ambos se encontraram. Após um novo silêncio ela ouviu uma nova pergunta.

- A viagem que mais aprecio é a do momento. E essa que estamos fazendo para mim é perfeitamente a melhor, pois ao mesmo tempo que usufruo da viagem, não sofro de saudades suas.

Ela disse e sorriu, ainda de olhos fechados.

Ele estava nas nuvens. Beatrix o deixava sonhando. Ele sentia-se tão bem de uma forma que nunca sentira na vida.

- hummm , iremos negociar, senhorita. Acho que hoje pagaste uma pequena parcela...

Ele então segurou em suas mãos e beijou sua testa.

- Vamos dar uma volta a cavalo?

Ele então pegou seu cavalo e esperou a Dama.

- Precisas de ajuda, querida?

Eles foram então rumo a casa de Beatrix.

- Tudo bem. Se ele deseja, falarei.

Ele despediu-se da Dama e recebeu seu beijo dando-lhe um beijo em sua testa logo em seguida.

- Logo estarei aqui novamente, minha linda Dama.

Andando de mãos dadas as margens do rio Sado, o Sr. Fitz e a Dama Beatrix admiram juntos o lugar.

- Sim, de fato. Está muito belo. Eu diria que está até mais belo do que antes.

O Sr. Fitz estava muito emocionado de estar com a Dama Beatrix. Eram momentos muito felizes que os deixam numa paz inexplicável.

Ela recebeu o beijo e correspondeu, também tocou o rosto e os cabelos de Fitz enquanto o beijava. Queria guardar o gosto do beijo e o aroma dos cabelos e da pele dele, para lembrar-se sempre, mesmo quando ela estivesse longe. O conhecia havia tão pouco tempo e ele já era assim tão querido por ela. A ausência dele certamente seria sentida. Será que ele também teria saudades?

- Fico feliz que entenda. Gostaria que viesse me ver mais vezes antes de partir. Prometo que quando eu voltar vou passar alguns dias com você em Santarém. Que acha?

- É mesmo? Olha que sou capaz de abusar da sua hospitalidade.

Ela sorri olhando-o em seus olhos e cora um pouco. Em seguida ela muda de assunto, dando outra notícia. Ao que parece nesse dia ela está cheia de novidades.

- Vou estar perto de Santarém na segunda-feira. Tenho um trabalho de pintura no feudo do Cruzeiro, conhece?

Beatrix sorriu diante do tom que Fitz tomou ao praticamente exigir os beijos em adiantamento.

- Você vai ser tão rigoroso assim comigo, cobrar adiantado? Só falta ter que lhe pagar juros de usura.

Ela comentou abraçando-o.

- Estou aqui, se quiser cobrar o que te devo, pago com prazer.

Ela disse sussurrando em seu ouvido.

- Creio que o senhor terá que vir aqui muitas vezes para receber em parcelas o que lhe devo. Não poderei pagar tudo de uma vez, ou não teria graça.

Ela disse com um belo sorriso nos lábios, enquanto encarava Fitz, seus rostos quase se encostando para um novo beijo.

- É mesmo? Eu também.

Ela disse sussurrando e beijou Fitz, primeiro suavemente, depois de forma mais intensa.

- Primeira parte do pagamento. Está de acordo?

Beatrix comentou em um tom solene.

- Ficarei fora por dois meses. Sim, sei que é longe, mas é uma oportunidade rara, e preciso acompanhar meu mestre Gennaro Amatucci, para aprender sobre tecidos raros que apenas lá são encontrados. Vou conhecer um mestre tecelão que é simplesmente lendário. Foi bem difícil para o prior convencê-lo a me levar, pois ele me odeia, então não posso declinar de forma alguma.

Beatrix procura explicar a Fitz sobre o quanto a viagem é importante para ela. A surpresa era compreensível. De fato é muito longe e a viagem será longa e perigosa.

Ele arregala os olhos e olha para ela.

- Alexandria?

-Mas...

Ele levanta-se, senta-se de frente para Beaterix, com as pernas cruzadas.

- Alexandria, mas... É tão longe. Quanto tempo ficarás fora?

Ele sorri para ela e já com os olhos abertos a admira.

- Amo também os teus beijos.

- Projetos em família. Regimento, tem tomado o meu tempo. Mas jamais esqueço-te. Estas sempre em minhas lembranças. E ainda tenho este lenço.

Ele tira do bolso e mostra-lhe.

- Com um perfume sem igual. hummmm

Cheira e sorri para a dama.

- Eu só queria matar um pouco as saudades.

Ela diz e sorri, ainda acariciando os cabelos de Fitz.

- Alguma novidade? Andaste sumido. Até pensei que havia me esquecido, no fundo de um lago qualquer. Isso até daria um bom conto, mas detestaria que acontecesse. Quando vamos treinar? Ainda lembra disso?

Ela pergunta sorrindo divertidamente, lembrando da primeira vez que se encontraram ali naquele recanto e ela derrubou Fitz com o cajado de pastor.

Está uma tarde muito agradável e uma brisa suave mexe nos cabelos de Beatrix e espalha as flores e folhas pelo chão. O murmúrio do rio é ouvido nesse recanto silencioso e deserto. Apenas alguns sons de pequenos animais quebram a cantiga do rio com seus piados e farfalhar de asas. Fitz estranha apenas a ausência do barulho dos carneiros.

Ele recebe os beijos e sorri para Beatrix.

- Se continuares assim vais acostumar-me mal.

Ela se senta e deixa Fitz repousar a cabeça em seu colo. Ela acariciava os cabelos e o rosto dele, enquanto o ouvia.

- Eu digo o mesmo, meu querido. Sua presença sempre me deixa feliz.

Ele sorriu para a Dama.

- Sou um bom observador...

Ela sentou-se e ele deitou ao seu lado, repousando sua cabeça no colo de Beatrix.

Fechou os olhos e disse:

- É sempre muito agradável estar contigo, Beatrix.

Ela faz uma mesura e aceita o convite.

- Claro que aceito, estava com saudades de dançar com você. Houve um baile em Alcácer, eu vim, mas sem você não teve graça. Queria que você estivesse.

Ela disse e deixou que ele a conduzisse.

Beatrix corresponde ao beijo, estava com saudades desses momentos com Fitz.

Ela disse depois do giro.

- Obrigada, você sempre muito galante. Acho que está muito bonito. Gostei muito do jeito que arrumou o cabelo. Está um pouco maior desde a última vez.

Ela comenta e o convida a sentar-se com ela na pedra grande em frente ao rio.

- Queria que pudêssemos nos ver mais vezes.

Ela disse e sorriu.

- E depois de tanto tempo, eu não ganho um beijo?

Beatrix perguntou ainda abraçada a Fitz.

O Sr. Fitz que estava em meio a trabalhos e reuniões sérias e tensas de família não pensou duas vezes em cumprir com seu compromisso firmado junto a Dama Beatrix. Ele vestiu-se como de costume e foi a cavalo para o lugar de sempre.

Ele chegando próximo ao local desceu do cavalo e foi andando. Avistou a Dama e começou a assoviar, enquanto a via distraída, sentada na grande pedra.

Beatrix marcou um novo encontro com Fitz, às margens do rio. Dessa vez ela não trouxe os carneiros. Era uma agradável tarde de sábado, e ela aguardava, enquanto observava a bela paisagem à sua frente. Ela vestira um belo vestido verde, e usava os cabelos soltos.

Estava feliz em reencontrar Fitz de quem tinha muitas saudades.

Ela caminhou de mãos dadas com Fitz. Aquele horário ao final da tarde era fresco e agradável, e havia um perfume morno de flores no ar.
Os carneiros iam seguindo, sem grandes dificuldades, já sabiam o caminho de casa e não tinham mais intenção alguma de fugir. Estavam bem alimentados, e o cansaço fazia com que desejassem o aprisco. Poucas vezes Beatrix precisou interromper o trajeto ao lado de Fitz para tangê-los e buscá-los.

O sol ainda não havia se despedido do casal quando chegaram ao ponto em que se separariam. Ali a brisa das flores e do rio se misturava ao cheiro e a brisa do mar que banhava Alcácer do Sal.

- Foi uma tarde muito agradável. Espero vê-lo em breve, meu querido.

Ela disse com um jeito doce, e deu um beijo rápido nos lábios de Fitz. Deu outro beijo em seu rosto e despediu-se dele, em seguida.

O Sr. Fitz então pegou as amarras do cavalo numa mão e enquanto entravam na estrada os dois a pé e os carneiros a frente ele estendeu a mão pedindo a mão dela.

E seguiram estrada de mãos dadas e rindo-se dos carneiros travessos.

O Sr. Fitz então também acariciando-a as mãos respondeu-a.

- Em breve. Posso acompanha-la um pouco pela estrada? Depois sigo meu caminho.

Ele sorriu para a Dama, ainda anestesiado pelo beijo. O único impulso que Fitz teve foi buscar novamente os lábios da Dama e beija-la intensamente. Acariciando-a nos cabelos e também em seus braços.

Beatrix tocou os lábios de Fitz e o beijou suavemente, depois deu um outro beijo mais intenso. Ela fez um carinho de leve em seu pescoço, enquanto o beijava. Depois dos beijos ela abriu os olhos e sorriu.

- Então, acha que fui justa?

Fitz aproxima também seus lábios. Apesar de leves toques eles ainda não se beijam. Ele acaricia o rosto de Beatrix com a mão e também com seu nariz. Ele sentia seu coração a mil e com os olhos fechados ele a acariciava.

Fitz olha para ela com uma cara de quem diz: hrum, queira Jah que valha a pena...

Ele senta-se bem juntinho de Beatrix e a olha sem parar. Aproximando-se cada vez mais. Sente seu perfume e mexendo seu cabelo ele pergunta quase sussurrando:

- Então quais são os acréscimos do pagamento?

Beatrix divertiu-se um pouco ao assistir Fitz pastoreando os carneiros. Apesar de se atrapalhar um pouco no iniciou ele estava se saindo bastante bem para a primeira vez.

- Pode trazê-los de volta para o pasto agora, Fitz.

Ela disse sorrindo e notando que ao final ele até que dominara bem o trabalho, ela pegou a flauta e pôs-se a tocar um pouco.

Após observar como fazer ele olha para o cajado e olha para a Dama sentando-se na pedra... Então vira-se sorrindo como quem diz: Onde estou? [risos]. Então fazendo sons e chamando os carneiros e ia tangendo-os e levando-os as margens. Alguns fugião-lhe pareciam combinados com a Dama, de fato deram-lhe algum trabalho. Mas apesar de algumas trapalhadas ele conseguiu cumprir sua parte no trato.

Ele apoiou-se no chão e levantou até onde pudesse alcançar os lábios de Beatrix.

Ele sorriu com o beijo na testa.

- Sim, vamos. Guia-me.

Ele levantou-se e a ajudou a levantar.

Ele olha desconfiado para ela.

- Isso depende do favor. Pode sair caro ou até de graça, vai depender do que queres.

Fala confiante.

- Você é um militar forte e resistente, pode se recuperar sem ajuda.

Ela sorriu.

- Acho que vou querer algo em troca de um beijo. Você faria?

- O que você vai ganhar se me fizer um favor. Não quer?

Ela pergunta fazendo cara de desentendida.

Ele ainda sonolento disse rindo-se.

- Podes me dar uma prova de que não é um sonho?

Ele sorriu e ainda naquela posição disse:

- Não pode ser real.

Disse ele olhando para a Dama, fitando em seus olhos:

- Estou vendo um ser celestial. Ouço o som de carneirinhos, água corrente e folhas agitadas pelo vento, além de pássaros e besouros. Diz-me: estou no paraíso?

- Não, não está sonhando, sou eu. Cheguei, em carne, osso e carneiros.

Beatrix disse sorridente e corada. Ela vinha caminhando como de costume. Estava usando um traje simples, mas havia se arrumado com esmero. Aquele era o dia dela apascentar os carneiros e estava mesmo acompanhada por mais de uma dúzia de bolinhas de lã, que baliam sem parar.

Fitz de fato cochilou por alguns minutos, o que vinha a sua mente em aquela que ele sentia-se atraído. Ele vi em seus sonhos a Dama Beatrix. Quando apercebeu-se que o sol saíra de seus olhos ele os abriu e viu o rosto da Dama, como ela já estava em sua mente ele nem assustou-se, apenas ainda com os olhos sonolentos disse:

- Estou sonhando?

- Sem dúvida não era a que eu pretendia. Queria surpreender minha irmã de outro modo.

William disse e em seguida preferiu não comentar mais nada, desejava esquecer por enquanto aquele assunto. Ele buscou seu cavalo e acompanhou Eleazar para Sintra, onde ele já havia estado, sempre desejoso de saber como sua irmã estava. Agora ele retornava a Sintra para rever Yochanan. Ele certamente já sabia da sua chegada.

William apenas viu o rapaz despedir-se de Beatrix, não fez nada para impedi-lo de aproximar-se da irmã. Nesse ponto ao menos, ele achou que Fitz teve bastante integridade.

Notou que a irmã apesar de obedecê-lo, saiu aborrecida com ele, pois sequer olhou para ele. Sabia que a irmã era jovem e que nessa idade muitas vezes nos deixamos levar pelo coração e não medimos as consequências. Mas ele tinha certeza que estava fazendo o melhor para a sua querida irmã caçula, que agora era a sua única irmã.

Ele sentia-se um tanto culpado por ter deixado Beatrix sozinha, e não ter levado a irmã junto consigo, quando partira de Portugal. Ele devia ter desobedecido a ordem do pai, Theodore. Mas agora era tarde para lamentações.

Em um único dia, ele queria compensar todos os anos de ausência, em que ele não estivera presente na vida da irmã e não a apoiara.

Talvez ele tivesse escolhido a maneira errada de recomeçar, mas ao menos ele estava ali, e ela sentiria que havia um irmão a protegê-la e a amá-la.

Depois que Beatrix partiu, ele virou-se para Eleazar e disse.

- Não façamos o prior esperar. Irei agora.

O Sr. Fitz não surpreendeu-se pelo que disse Beatrix. Ele deu sua palavra. Ele pediu e ele então, mesmo que desapontado e irritado com os sujeitos olhou para ela. Deu-lhe um beijo em sua testa e sussurrou em seus ouvindo:

- Se assim desejas, irei. Adeus...

. Olhando para William e o estranho ele disse:

- BARROIS!

E veio Barrois que por ordem de Fitz estava ali próximo, mas escondido.

- Vamos. Já não somos bem vindos aqui.

- Sim meu senhor, iremos pois agora mesmo.

Partiu Fitz dali sem olhar para traz. Barrois sempre andava com a espada de Fitz e a dele mesmo, além de um arco e flechas. Contudo ele ia mesmo para assegurar que sempre a informação do acontecimento fosse guardada. Saíram os dois dali caminhando calmamente. Fitz ia admirando o conta dos pássaros e as folhas que faziam o som que ele tanto amava, quando o vento batia e as agitava.

William olhava para o rapaz e desejava dar-lhe uma lição por sua arrogância e prepotência.

Ao ouvir a irmã, ele aborreceu-se deveras. Ele que era tão calmo e cioso de suas habilidade e que não gostava de dispor-se em armas com ninguém que julgasse inferior a si, por pouco estava perdendo o controle.

- Eu confio em ti, irmã minha, mas não prezo tanto assim a esse jovem arrogante que a está acompanhando. Ele ainda não mostrou-me a dignidade necessária. Vá para sua casa irmã e depois conversaremos.

As palavras de Eleazar colocaram um freio nas intenções de William, afinal, ele estava ali pela ordem, e não tinha permissão de agir como se estivesse em seu próprio feudo. Em outras circunstâncias sangue seria derramado, independente dos rogos de quem fosse.

Em seu foro interno Eleazar suspirou aliviado ao ver William abaixar a espada. Havia decidido revelar-se pois temia que aquela situação poderia terminar mal para o jovem comandante local. Afinal o patriarca dos Algrave era um Erelim, um guerreiro da Ordem de Azure cuja habilidade com as armas nascia de um dom natural aperfeiçoado por anos de árduos e terríveis treinamentos que serviam para treinar o corpo e a alma do guerreiro. E mesmo daquela distancia ele podia ver que ao Algrave não lhe agradava nem um pouco aquela situação.

- Erelim! - Exclamou Eleazar com autoridade mas se aproximando sem pressa alguma, seu bastão acompanhando seus passos até que se colocou entre William e Fitzwilliamdarcy dando as costas para este último. Aproximou-se então de William de forma que apenas ele escutasse suas palavras e lhe disse em um sussurro. - O Prior deseja que se encontre com ele em Sintra o antes possível. - dito isso sorriu suavemente e falando um pouco mais alto para que Fitz e Beatrix pudessem escutar disse. - Agora, Comendador Algrave, o rapaz aqui - disse colocando a mão no ombro de Fitz. - já estava por se retirar. Não é mesmo, senhor Fitz? - concluiu com um tom jovial, tirando a importância do que quer que fosse que estivesse a ocorrer momentos antes, mas com um incisivo de que não seria muito saudável para o jovem comandante permanecer naquele lugar muito mais tempo.

Beatrix não conseguia acreditar naquela cena. Primeiro tivera uma enorme felicidade em ver o irmão e saber que ele estava vivo e bem. Depois o comportamento super-protetor dele, a irritara profundamente. Ele ficara tanto tempo sem vê-la e agora que a reencontrava estava querendo controlar sua vida de forma tão abusiva.

- Proíbe? Como assim proíbe? Mal chegaste, meu irmão e já vens querer controlar-me? Eu pensava que estavas morto, desaparecido, e mal me alegro em vê-lo e ages assim? Não sou mais criança e sei me cuidar. Acaso não confias mais em vossa irmã?

O Sr. Fitz levanta-se e a Dama também atras dele.

- Então já sei quem es, afinal Beatrix já falou de ti. Como já pediste educadamente direi a ti.

- Eu sou Fitzwilliamdarcy Spada Henriques Torre. Comandante Local de Santarém e instrutor da Academia de Instrução Militar Guarda-da-Câmara Dom Eliucas Monforte-Marques.

O Sr. Fitz então entendeu que o irmão necessitava de uma explicação.

- Se julgas por ti mesmo e determinas pelo olho as intenções dos homens na terra então não sabes nada.

- Eu apenas estou a conhecer a Dama. Nada demais. E se tenho intenções para com ela são as boas. Sou um homem de família, honrado, respeitoso e amente da Justiça.

Falava o Sr. Fitz com tom sério e militar, encarando a William.

Beatrix foi surpreendida pela presença do homem ameaçador. Mas quando viu seus olhos e ouviu sua voz, não teve dúvidas. O que ela viu em Sintra não havia sido uma miragem, nem ilusão. Seu irmão Guilherme Algrave, estava realmente de volta.

Ela encarou-o cheia de surpresa e a emoção em revê-lo quase a fez esquecer que ele apontava sua espada para Fitz.

A presença de Eleazar causou-lhe susto maior. Uma coisa é suspeitar que os azure estavam a sua volta, outra bem diferente é ter um deles ali diante de si.

- Irmão, o que faz aqui? Por que não veio me ver? Preocupou-me tanto. Deixe-o, não estávamos fazendo nada de mal.

Ela insistiu que ele abaixasse a espada. O irmão no entanto, continuou encarando Fitz.

Os Grigori sempre observam, sempre guardam e cuidam aos seus protegidos desde as sombras ou a plena luz, mas sempre sem ser vistos até que seja o momento certo. A influência dos Casterwill ainda pairava sobre as terras do sul português e por isso o Prior ainda não havia retirado a escolta que havia colocado para proteger Beatrix, ainda mais, havia mobilizado a alguns de seus melhores homens para conter a influencia dos agentes do clã inglês.

E agora ali, como se houvesse se materializado do nada, aparecia uma figura em trajes negros, apoiado em um bastão de madeira escura e com uma espada cingida na cintura. Seu rosto emoldurado pela barba cortada rente ao rosto e os cabelos à altura dos ombros escuros ambos como as vestes que levava. De pele escurecida pelo sol, tinha a tez dos camponeses, mas o brilho em seus olhos castanhos e seu porte quase marcial indicavam que era uma pessoa de estrato superior.

Ele foi intencionalmente sonoro em seu pigarreio para anunciar sua presença e interromper-los.

Beatrix também começou a acariciar os cabelos de Fitz, ali ao lado dele, olhou em seus olhos e inclinou-se para um beijo. O cenário era de fato muito romântico, diante do belo rio Sado. Não havia nada a atrapalha-los além do balido suave dos carneiros.

Ele sorriu. Nem percebia que a galanteava tanto.

- Perdão, eu nem me apercebo. Mas só estou a dizer o que de fato é. E não me contenho em dizer-te que es maravilhosamente linda.

Ele voltou a acariciar seus cabelos e cada vez mais ia mais longe deslisando seus dedos nos cabelos de Beatrix.

O Sr. Fitz sorriu e perguntou.

- Não a esquecerei mais senhorita. Estava em meio a trabalhos. Diga-me contas-te então os dias? Sentiste saudades?

O Sr. Fitz sorri para a Dama.

- Na verdade não. Sou um tanto exigente quanto as companhias. Uma ideia por dia. Hoje fiz-te essa surpresa amanhã já faço outra diferente...

- Eu já te disse, sou militar e sei me cuidar, tu não terias nem mexido se minhas intenções fossem outras. Porém adorei que tenhas me derrubado. Es boa nisso. Ainda treinaremos juntos... Será divertido.

Ele então vendo que ela tirara a touca a acariciou passando os dedos entre os fios de cabelos avermelhados. Com todo cuidado do mundo enquanto acariciava ele disse:

- Claro que não. Apenas a observei. Eu não sabia muito bem o que falar e nem o que fazer, então só a observei...

Ele continuou:

- E digo-te: es linda...

Ele disse olhando para ela e a encarando.

Ele espontaneamente enquanto mexia nos cabelos de Beatrix responde.

- Creio que seja a terceira...

Ele então sorri após um segundo de silêncio e então corrige...

- Bem na verdade, eu mesmo, estando aqui é a quarta vez...

E de fato ele gostou de mexer no cabelo de Beatrix, aqueles cabelos de fogo o hipnotizavam.

O Sr. Fitz ao sentir o toque da Dama em seu queixo virou o rosto para ela e disse sorrindo.

- Então o nome dele é André...

Ele riu-se...

- Um menino para cuidar de ovelhas...

- Apenas demos uma assegurada no perímetro senhorita...

Disse ele sorrindo e colocando a parte da frente do cabelo de Beatrix para traz.

Ele sentou ao lado da Dama. Bem próximo a ela e a respondeu, olhando para o horizonte.

- Se eu te contasse teria de mata-la... E não posso fazer isso.

- Segredos são segredos...

Ele então sorriu e ai sim olhou para ela.

- Só posso dizer-te que não foi fácil...

O Sr. Fitz era só sorrisos para a Dama. Ele então resolveu brincar com ela.

- humm... Deixa-me ver. Não sei bem se estas tão desarrumada assim.

Ele afastou-se um pouco para a ver por completa e olhar para ela. Andou em volta dela e concluindo disse:

- Estas bonita como sempre e mais linda ainda como sempre também.

Ele olhou volta e disse:

- É um lindo lugar. Mas ainda prefiro olhar para ti.

E olhou de volta para a Dama.

Fitz sentou-se e olhando para o chão estava uma flor toda despetalada. Ele iria presentear a Dama com ela, ainda rindo-se ele levantou-se e abriu os braços para abraça-la.

- Bem isso é para ti. Ou era. Agora está estragada. Veja...

Sorriu para a Dama.

Fitz sorria e ria-se da força da Dama e da situação. Ele levantará as mãos e olhando nos olhos da Dama disse:

- Eu me rendo senhorita. Mas se me permite uma última palavra...

Disse ele rindo-se e piscando um olho para a Dama:

- Estas linda e ainda a essa distancia digo mais teus olhos parecem ainda mais brilhantes e tua boca mais tentadora.

Ele com um sorriso de ponta a ponta completou:

- A propósito...

- Olá...

Disse tocando o queixo da Dama.

O Sr. Fitz a viu lendo e saindo silenciosamente dos arbustos ele enquanto ela já puxada o punhal tampou os olhos da Dama, estando atras dela disse:

- Creio que não irás precisar disso senhorita...

O Sr. Fitz passara uma semana sem notícias da Dama Beatrix, a última foi a furada que Barrois aprontou para o Comandante.

Ele então buscou aprofundar-se em seus trabalhos, seu regimento, sua oficina. No domingo, após o jantar, quando ele assentava-se em sua poltrona, na sala de estar de sua modesta casa, enquanto lhe era servido especiarias a luz da lareira. Ele ouvia aos criados e aos seus servos pessoais. Lá estava Barrois novamente para lhe dar uma notícia.

De fato era um grande notícia, finalmente Barrois descobrira algo que valesse a pena. Que lhe desse a oportunidade de conhecer ainda mais a Dama Beatrix.

Ele deveria esperar mais uma semana para enfim encontrar com a Dama. Foi uma semana difícil, ele buscava novamente aprofundar-se nos trabalhos, mas não conseguia. Estava sempre a lembrar da face da Dama, de seu beijo e de seus momentos juntos. Ele pensava: "Vamos sol mais depressa! Esses dias não passam, por mais que eu foque em outras coisas aqueles olhos sempre me vêm a lembrança... Ah... Aqueles olhos...". E perdia-se em pensamentos. Até que algo deixou Fitz ansioso, ele andava de um lado para o outro e olhava pela janela de seu gabinete, o que ele falaria para a Dama? Qual desculpa ele daria? Ele raciocinava: "humm... O que direi pois? Como chegarei até ela? Perdi-me no caminho? Ora... Bobagem...". Ele então de tantos pensamentos começou a falar para si mesmo, pois os pensamentos já não cabiam em si.

- O que direi? Eu perdido? Impossível... RAIOS! O que direi?!

Domingo chegou... Fitz preparou-se e uma hora antes chegou às margens do rio Sado. Escondeu-se nos arbustos e ali esperou. Ele pensava: "Quando ela chegar a deixo passar ou apareço do nada? Não! Estúpido! Não! Pensa pensa Darcy.... Batia o punho na testa. Agitava-se em seu interior, imóvel mexia apenas os olhos.

Então lá no começo do caminho, vindo da estrada, ele avistou ovelhas. Atras lá vinha ela. A Dama Beatrix. Ele a olhava e instantaneamente seus pensamentos sumiram. Ele mais imóvel do que nunca sonhava com aquela mulher mesmo sem esforçar-se em nada. Ela passou. Ele a observou e por várias vezes pensou em simplesmente sair e falar com ela. "Vamos... Vai Darcy!". Lutava com sua imobilidade. "Será até engraçado, vá! Ande homem!". Ele não se mexia. Parecia que ele estava ali a minutos, mas o sol já se punha, era muito tarde, as ovelhas regressavam e o Sr. Fitz não acreditara... Ele perdeu a oportunidade...

Mais uma semana de agonia pela frente. Ele não acreditava em sua fraqueza. Parado por uma mulher. Tudo bem que era uma beleza que beirava o divino, mas vamos lá ele perdeu uma grande oportunidade.

Novamente domingo. O Sr. Fitz estava determinado. Para não esperar muito ele foi às margens do rio Sado apenas meia hora antes da Dama. Escondeu-se e logo ela chegou. Sim de fato era uma rotina e Fitz já entrara na rotina dos arbustos. Ele a viu passar e linda como sempre a viu. Ele imóvel como de costume ficou. Era desesperador. Ele pensara a semana toda e nada vinha-lhe a mente... Ele deitava no chão, escondido, então olhava para ela. Até pensava na vida. No passado, no presente, no futuro. Até que ela já indo ele ergueu-se ainda escondido no arbusto. "Fitz! Seu inútil! Como posso?! Não acredito! Mas também não tenho o que dizer, ao menos posso vê-la daqui..."... Ele então culpava-se e desculpava-se a si mesmo. Estava perdido quando de repente.

- Pisss...

Oh não, ele fora descoberto. Fitz então gelou a alma. Suas mãos suaram instantaneamente e um pingo de suor escorreu por seu rosto. Ou eu mato ou eu fujo, talvez não saiba quem sou... Mas se for a Dama eu fugo....

- Ei! Piss! O que estas fazendo?

O sussurro persistiu, o Sr. Fitz então buscou quem estava a falar e com seus olhos acostumados a escuridão pode ver um homem do outro lado da estrada, em um arbusto.

- Quem é você?! Diga!

Ele sussurrou enquanto a Dama já ia longe. "Nem poderei vê-la partir, infeliz, quem será?! Ah se for um dos meus irmãos eu mato, hoje a família diminui!". Pensava Fitz desesperado.

- Oras, meu senhor, seu eu. Barrois.

Fitz respirou aliviado...

- Eu o segui para dar-te segurança... O que estais a fazer? O Sr. não disse nada nem semana passada nem hoje. O que houve?

Fitz olhou para os lados e vendo que a Dama fora de fato embora e já distante disse ele enquanto deitava e olhava as estrelas.

- Ah Barrois! Eu devia matar-te e jogar o corpo no rio, mas as ovelhas da Dama saciam a sede ai, eu não quero estragar a água...

E ria-se Fitz da situação e de Barrois que o surpreendera, era de fato um bom aluno. O problema maior é que Fitz estava tão cheio de pensamentos que suas habilidades militares e de investigação eram ofuscadas por seus sentimento. Fitz era um militar novo e estava aprendendo a controlar-se em todas as situações.

- Eu não consegui Barrois, não sei como falar a ela coisa alguma...

Pensaram os dois... Fitz de vez em quando ria-se novamente de tudo que se passara. Aidna deitado no chão. E Barrois do outro lado também no chão, deitado, perguntou:

- Por que não envias uma carta meu senhor?

- Uma carta, mas e a surpresa? Quero que ela surpreenda-se. Ela não gosta de formalidade Barrois, sabes disso.

Oras, manda-a sem dizer teu nome.

Ai ela não vem homem! Pensará que é uma emboscada...

Até que surgiu-lhe uma ideia.

Já sei Barrois!!!

O que meu senhor? O que houve?

Já estavas a cochilar homem?

Cochilou Barrois nos arbustos para mais uma risada de Fitz que vendo o homem cansado levantou-se e foram andando, enquanto ele contava-lhe o que pensara e como faria.

Depois de uma semana inteira revendo seu grande plano o Sr. Fitz aprontou-se. Redigiu uma carta a qual passou a limpo umas quinhentas vezes. Ele foi até às margens do rio Sado, chegou lá uma hora antes. Era um domingo de tempo agradável. Um pouco de frio, mas agradável. Ele pôs a carta numa pedra onde sempre a Dama sentava-se. A carta dizia:



Ele então escondeu-se atras do arbusto que ficava atras da árvore que a Dama se assentava. A carta em cima da pedra que ficava abaixo da árvore. O cenário estava montado. Agora era a Dama Beatrix chegar, ler a carta e o Comandante a surpreenderia tapando-lhe os olhos.

Ele escondeu-se e ficou imóvel, mas já não sentia tremer-se e nem suava, estava feliz e ansioso por pregar esta peça a Dama que tanto lhe tirava o sério e o fôlego.

Todos os dias, o garoto André levava os carneiros de Beatrix para pastar e beber água às margens do rio Sado.

O rebanho estava lanoso e gordito, e André olhava para os carneiros com satisfação. Logo haveria cria, e o rebanho aumentaria. Beatrix havia prometido a André que ele poderia escolher um dos carneiros para si, e ele já fazia planos do que faria com o dinheiro da venda. O carneiro é claro, demoraria um pouco a crescer, engordaria e seria tosado e tudo lhe daria lucro.

Na verdade não eram todos os dias que André fazia esse trabalho. Ao menos uma vez por semana, no domingo, André tinha folga e era Beatrix quem levava os carneiros e os apascentava. Ela fazia isso depois da missa.

Era um trabalho mas também um passeio que ela julgava agradável. Enquanto os carneiros pastavam, Beatrix às vezes tocava flauta, lia mas sempre procurava manter a atenção nos carneiros.

Ela fazia um agradável lanche sobre a sombra de uma árvore e antes de retornar até tomava banho de rio em um lugar mais isolado em seu trajeto. Depois disso as ovelhas retornavam em segurança para o aprisco.

André ficava feliz com a folga. Quando por algum motivo Beatrix não podia apascentar os carneiros no domingo, isso poderia ficar a cargo de Clotilde ou Laurinda.

Naquela manhã de domingo, Beatrix seguia com as ovelhas para as margens do Sado, onde havia água e grama fresquinha e verde. Ela usava um vestido simples, de um belo tom de amarelo e nas mãos levava o cajado de pastor. Em seu alforge ia o seu almoço do dia.

Ela após o momento de descanso, recolhe as coisas com a ajuda de Fitz.

- Sim, não podemos nos atrasar, mas foi um ótimo descanso.

Ela diz e depois de guardar a manta na bagagem, torna a montar em Desheret. E logo os dois estão prontos para partir novamente. Beatrix sorriu para Fitz indicando que estava pronta para prosseguir.

Eles abandonam aquele recanto tão aprazível e tomam o rumo da estrada em direção a Montemor, a cidade em que Beatrix viveu durante tantos tempo e que agora era um pedaço de seu passado.