Carta Aberta
À Corte dos Nobres, aos Nobres de Portugal e a todos os vassalos de Sua Majestade Real D. Pedro I de Portugal que estas palavras leia ou escute.
É com a esperança de que estas linhas cheguem ao maior número de almas que habitam este Reino de Portugal que as escrevo e as faço chegar à Redação da KAP Portugal para que seja por este meio publicado.
No nono dia de junho de 1462 o Colégio Heráldico Português anunciou em Praça Pública a Interrupção por tempo indeterminado das atividades da Heráldica Portuguesa. Uma medida de força é verdade, mas com um objetivo claro e pontual com um propósito que se estende além das demandas do Colégio Heráldico Português. Foi e continua sendo um dos propósitos principais desta medida, o forçar aos nobres deste reino que tomam uma posição como os nobres que são. Que cumpram o papel que têm em nossa sociedade Res Parendo!
Que um titulo nobiliárquico seja ostentado com o orgulho devido, que cada um dos organismos que tratem do nobiliárquico receba o respeito devido não apenas dos nobres mas da sociedade como um todo. Que não só cada um dos nobres conheça seus direitos e deveres, mas que ensinem a aqueles que vos vão substituir no futuro o que significa ser um nobre neste Reino!
Onde ficou o orgulho de pertencer a uma linhagem? Onde estão os valores da família portuguesa? Onde estão os nobres quando o reino se vê ameaçado? Onde estão as vossas terras às quais lhes foram confiadas? Quais são as armas do teu feudo? Estes são algumas das perguntas que gostaria que cada nobre respondesse a si mesmo se puder.
A nobreza por meritocracia é o exemplo que educa pela ação, é a marca do civismo e a representação do que uma sociedade acredita ser o correto, o louvável, o meritório. Em sua maioria o plebeu sempre buscará imitar ao nobre, buscará alcançar um relance do ideal nobre, caberá ao nobre ensinar ao plebeu o seu lugar.
Durante os três meses que já dura a greve, a Coroa Portuguesa deteve o poder de terminá-la, desde o inicio com os arautos do Colégio Heráldico, a todos os que procuraram conversar conosco sobre este assunto, assumimos que enfrentaríamos as consequências Res Parendo desta atitude que tomamos. Uma atitude consciente, gerada pelo simples desejo de fazer mover a parte escura do Res Parendo Português, de mostrar ao povo deste reino que não existe apenas um caminho ou uma forma, mas que as demais são esquecidas. O medo impede a ação, o medo às consequências, o medo à opinião pública, o medo a ficar mal. É este mesmo medo que faz com que a palavra suplante a ação neste reino quando precisamente é a ação o que este reino infestado de oradores mais precisa.
Por muito tempo ficou previsto, esquecido, nos estatutos do Conselho de Sintra a existência de um Tribunal Heráldico, cuja decisão poderia ser utilizada como base para o rebaixamento ou a destituição do título de um nobre. Em todo este tempo, não vi em Sintra um único debate sobre o que seria esse tribunal e porque sua decisão teria tanto peso como para dar inicio à pior punição que Sintra pode determinar: A Destituição de um título nobiliárquico.
Ouvimos já longamente que Sintra não é um tribunal, que no Conselho não há juízes, e entretanto julgam o merecimento ou desmerecimento de um título. Adianto desde já que nada temos em contra do Conselho de Sintra ou daqueles que o compõem, é mais, consideramos ao Conselho como uma instituição irmã até mesmo porque houve um tempo em que o Colégio e o Conselho formavam um único organismo. Que os nobres julguem que deve ser nobre foi um dos argumentos da cisão do Colégio e do Conselho. Um argumento que deve ainda estar sendo utilizado na Corte dos Nobres em relação ao Tribunal Heráldico. E porque não seria, é um argumento válido é claro, mas então deixo a pergunta aos nobres de Portugal: O que é ser nobre?
Claramente terá o estatuto de nobre aquele que tenha um título nobiliárquico outorgado e aprovado por Sintra, ratificado e juramentado pela Coroa, com armas devidamente feitas pela Heráldica e com sua linhagem registrada. Esta pessoa aos olhos da lei seria um nobre, mas faz essa pessoa parte do ideal nobre de Portugal? Mas afinal quais são os ideais do Nobre Português? Será a valentia? Ou a erudição? O trabalho árduo? Ou a bolsa cheia de cruzados?
Quais são os parâmetros que fazem que Sintra, representante da Corte dos Nobres neste aspecto, julgue o mérito daquele que busca o título? Quero que percebam com isso que o problema não é de Sintra, mas vai muito mais profundo que Sintra, e até mesmo que a Corte dos Nobres. É um problema de definição, e para definir é necessária a ação. Para que quando digam que Fulano ou Beltrano é Conde Disso ou Duque Daquilo os pais digam a seus filhos que admirem a esses homens e mulheres da Nobreza Portuguesa pois eles são os mais elevados dentre os Portugueses. Que um dia um campesino ou um artesão possam dizer com orgulho que tem a honra de servir e trabalhar nas terras de um Nobre Português!
Meu lugar como Portugal Rei de Armas, está como sempre esteve, nas mãos do Rei, minha consciência está limpa nas mãos do Senhor. Com estas palavras não busco ofender ninguém, apenas abrir-lhes os olhos para uma verdade.
Onde ficaram os Protocolos e as Precedências? Onde repousa o respeito? Onde jazem os grande feitos nobres, que deveriam ser imortalizados nas armas de seu portador? Onde dorme o Orgulho do Nobre Português?
Se leram, ou ouviram, até aqui, os congratulo pois deves ser parte de alguns poucos, e devem estar a se perguntar por que ainda nada disse do Colégio Heráldico, para perceberem que já disse muitas coisas. A função primordial das armas de qualquer nobre é identificá-lo, é ressaltá-lo, é louvar sua linhagem e aclamar seus feitos que o elevaram à posição que agora detém! A mesma função cumpre as armas de uma família, e quão intimamente ligadas estão estas com a das pessoas que pertencem a essa linhagem, até pareceriam as mesmas, ou assim deveria ser.
Acaso ó Nobre Português já sabes ao menos onde está o vosso feudo? Qual foi a última vez que por lá colocastes os pés? Sabes ao menos qual é a tua linhagem? Quantos filhos ou netos tens? E qual deles será o teu herdeiro? E sabe ele o significado de ser nobre neste reino ou acaso o sabe algum de nós? O que os fazem tão distintos e distinguidos? Não busco ofender-lhes, gostaria realmente que tomem um momento para pensá-lo e afirmá-lo ainda que a vocês mesmos.
A Heráldica é uma instituição que serve ante tudo à nobreza, guarda em seus armoriais e cadastros as armas e linhagens, reserva para a posteridade a memória daqueles que foram uma vez grandes, e que sendo Nobres, lideraram, ensinaram, governaram e construíram a grandeza de um reino! Mas como pode uma instituição servi-los quando não se conhece o que é ser um nobre português?
No dia de domingo passado Sua Alteza Real o Príncipe, nos fez chegar o ultimato da Coroa, estabelecendo que ou o Colégio Heráldico se retrata, acabando com a greve e pedindo desculpas à Coroa e à Corte dos Nobres, ou seus membros serão demitidos e acusados de Alta Traição pela Coroa.
Devo congratular à Sua Alteza Real, quem não mediu esforços em uma atitude conciliadora, mas que acima de tudo soube o momento de vergar-se quando seu suserano assim lhe demandou.
A proposta foi debatida pelo Colégio, e todos estiveram de acordo em que não nos arrependemos dos nossos atos, da medida tomada ou mesmo da forma em que foi feita, apenas lamentamos o longo tempo decorrido para que a ação ocorresse. Esperamos sinceramente que esta leve à sua contraparte em Res Parendo, pois para isso vivemos neste mundo. Este ato teve um propósito, e ainda que tarde em ser alcançado, queremos crer que este é apenas o inicio da revitalização do ideal português.
A decisão do Colégio é unanime, arcaremos com as consequências de nossos atos.
Longa Vida ao Rei e ao Reino de Portugal!
Sem Mais,
Despeço-me,
Vosso servidor,