Em algum momento, antes da viagem para Alexandria...O tempo passava rápido em meios aos treinamentos em seu atelier e aos trabalhos na Heráldica. Novos compromissos surgiam e a tecelã-arauto-bibliotecária parecia exausta diante de tantas ocupações. Apenas aos domingos ela podia relaxar um pouco, quando pela manhã apascentava suas ovelhas e durante a tarde quando finalmente podia descansar um pouco, de fato. Esses dias eram de paz e felicidade em que ela podia dormir mais e também ir à missa. Era também apenas ao domingos, que ela podia se encontrar com o jovem militar que conhecera em Lisboa. Isso aconteceu apenas três vezes, e depois eles não se viram mais...O tempo cada vez mais escasso e tantas coisas por fazer.
Aquela rotina estafante começava a cobrar seu preço e Beatrix, muito cansada, pediu uma semana de folga de todos os seus trabalhos, quando poderia descansar de tudo e se recuperar. Ela não queria viajar estafada.
Esse descanso acabou se tornando trabalho, quando surgiu um convite para Beatrix pintar um quadro do barão Dalur no feudo do Cruzeiro. Isso consumiu apenas três dias da folga, sem que fossem necessárias muitas explicações ao mestre Gennaro, que de outro modo não teria permitido essas atividades.
Apesar do esforço artístico, aqueles três dias na casa do Barão foram quase um descanso remunerado, comparado à rotina diária de Beatrix.
Trabalho findo, ela partiu para visitar a prima Maria e despedir-se dela. Infelizmente, essa despedida se deu em uma ocasião muito triste por conta da morte de Marilu. Contudo, Beatrix ainda reencontraria Maria Madalena na festa de casamento hexista de Pekente, Antonia e Volúpia.
Aquele foi sem dúvida o ritual mais estranho que a ruiva já vira e que terminou com a prima Maria machucada. Por conta disso, Beatrix obteve mais tempo de folga para ficar com a prima enquanto ela se recuperava.
Depois de deixar Maria na cidade do Porto, Beatrix retornou sozinha para sua casa, viajando em seu cavalo. No caminho ela parou em uma taverna em Coimbra, estava sedenta por uma boa cerveja. Talvez ficasse ali mais um dia, mas iria beber e se divertir um pouco antes de voltar a Alcácer e à cruel tutelagem de mestre Gennaro. Ele ainda estava aborrecido, da última vez que ela fora a uma festa e bebera, e tão perto da viagem, ela não queria mais atritos com o italiano rabugento.
Após pedir a cerveja ao taverneiro, Beatrix olhou para aquela bela caneca bem cheia e sorriu satisfeita com aquela sensação de liberdade e felicidade. Sequer notou que estava sendo observada. Ainda que não fosse sua intenção ela acabava atraindo mais atenção que o desejado.
O traje de viagem de Beatrix era simples e escuro. Um conjunto masculino com peças de couro e tecido resistente. Os cabelos ruivos estavam presos em trança e parcialmente cobertos pela capa. Na cintura pendia a espada e nas costas estava o arco e a aljava de flechas. Os olhos verdes da ruiva brilhavam diante da caneca e os lábios rosados logo provaram a cerveja com grande satisfação.