A noite estava um pouco fria, ainda mais nas estradas, que formavam certa corrente de vento. Além disso, Celly trajava um vestido muito reluzente, que se iluminava com a presença da lua, era prudente, portanto, que viesse oculta sob um capuz discreto de cor amarronzada.
Já havia resolvido suas pendências na cidade. Não por completo, de forma que ainda encontrava-se um tanto aborrecida e, ao mesmo tempo, um pouco zangada. Afinal, considerava um completo absurdo que um sujeitinho qualquer tivesse invadido suas dependências e subtraído suas moedas, tão bem guardadas em seu baú. Mas ele receberia uma lição, mais cedo ou mais tarde e, se não fosse por ela, seria por outro. Era jovem, podia até ser delicada. Mas quando se enfurecia não se sabia distingui-la de um animal selvagem, tamanha a sua brabeza.
No meio da estrada, viu uns homens misteriosos a aproximarem-se de sua pessoa. A princípio assustou-se um pouco e pensou em recuar, mas viu que seu pajem, Otto, conversava calmamente com eles. Certamente eram os cavaleiros da ordem.
- Boas noites, Otto! Fizeste o teu serviço? Ah, assim que gosto! Tome tuas moedas. Agora, gostaria que fosses dar uma olhadela em minha casa, ela tem sido alvo de malfeitores! Boa noite, senhores! Vieram escoltar-me? Não julgava ser necessário, mas para agradar meu pai posso acompanhá-los...
http://i596.photobucket.com/albums/tt41/Miss_Bat/vestidobrejeca_zps0576de8a.pngCelly então finalmente chegou ao seu destino, já sem o capuz, uma vez que não julgava mais necessário. Seu vestido era de um amarelo ouro, da cor do sol, contrastando com o breu da noite. A mesa estava lindamente posta, mas era possível avistar uma senhorita a olhar inconformada para a mesa e a resmungar daquela decoração. Seu pai era afeito a épocas remotas, como se diz comumente, das antigas, e gostava de uma moda já em desuso. Celestis primeiro riu da situação e depois, quando percebeu que tratava-se de Clarie, riu mais ainda. Ainda não conhecia a prima pessoalmente, mas sabia que possuía a fama de ser bastante geniosa, mais ainda do que ela.
- Boa noite, senhorita! Creio ser tua prima. É um prazer conhecê-la. Sei que não é minha casa, mas gostaria de pedir, em nome de meu pai, que sinta-se à vontade.
Realizou então uma educada vênia, mas não podia esconder o receio que possuía ao cumprimentar aquela jovem que lhe pareceu um tanto arredia. Cumprimentou também sua acompanhante Talita e seguiu a cumprimentar os demais convidados, passando também por Dama Beatrix, que há muito tempo não via e da qual sentia saudades e cumprimentou também o senhor Fitz.
- Onde estará meu pai? Ai, que logo o cansaço o abate, deve estar atrás de tudo, como sempre! Com licença...
Não vira Damasceno, de forma que imaginava que seu filho também não tivesse chegado. Estava um pouco apreensiva, a sentir um aperto no estômago e, nem de longe, o sintoma lhe parecia fome! Aquela agitação toda em sua casa devido ao furto que sofrera simplesmente a fizera esquecer-se um pouco daquele encontro que seu pai planejara. Também não ia à força, tinha trocado cartas e Celestis havia gostado em demasia das palavras do rapaz Nahum.
Um rapaz então passou por ela, cumprimentou-a e, em seguida, foi em direção à Clarie. Era belíssimo e tinha um sorriso que durante muito tempo não sairia de sua mente. Tentou manter a discrição, mas não pode. Depois, percebeu que não encaixava com a descrição que Nahum fizera dele mesmo à ela nas cartas e corou-se. Seria esse aquele tal Manuel que esteve enfermo? Esperava que ninguém tivesse notado aquela troca de olhares.
Um rapaz loiro vinha logo atrás. Era como um ser celestial, branco, quase pálido, de cabelos tão dourados quanto os fios de seu vestido. Estava elegantemente trajado, há muito Celestis não encontrava-se com uma figura como aquela. Certamente, devia ser casado, homens daquela beleza exótica e daquele porte não costumam estar desacompanhados. Celestis sequer atentou-se em admirá-lo, talvez fosse até deselegante.
- Boa noite, senhor! - disse, com a cabeça baixa. E passou por ele. Era Nahun.