Masmorras do Castelo

Fora um dia amargo para Celestis Pallas. Depois de ter acabado de encomendar o corpo de madame Dumond, ama de sua prima Sissi Edelweiss, nos arredores do Porto - mais precisamente, no Paço dos Arcanjos, residência do também condenado Yochanan - Celly retorna para sua casa e, ainda ao lado de fora, recebe a notícia diretamente de Ava, sua vizinha: seu pai já havia sido executado. O enforcamento fora feito assim, às pressas e quase sem testemunhas, mas no calor do momento Celestis mal notou tal detalhe.

Ava incutia-lhe a impressão de ser uma boa pessoa, porém, insensível demais para lidar com as perdas que seus amigos sofriam. Naquele dia em especial ela mal parecia esboçar expressão de pesar. A sentir-se desamparada, Celestis, que já havia desabado ainda no momento da prisão, decidiu tentar ser forte. Sentou-se à soleira de sua casa, para bloquear qualquer vertigem que lhe acometesse e visivelmente abatida, prestes a ter um colapso, sussurrou poucas palavras, mas sem ter muita certeza do que dizia:

- É como se eu já soubesse...havia um vazio em minha alma!

Antes que Celly se recuperasse do baque, Ava comunica-lhe algo insólito: o corpo havia desaparecido. E que, portanto, não seria possível realizar um funeral completo, apenas alguma cerimônia em respeito ao morto. No mesmo instante, Celestis levanta-se, amparando-se no batente da entrada de sua casa e, um pouco tonta, indigna-se, prestes a chorar:

- Será possível que meu pai não terá sequer um descanso digno? Cavaleiros, chamem John Rafael, onde quer que ele esteja! Diga-lhe que precisamos reclamar o corpo!

Naquele momento, Celestis não fez mais questão de que a vizinhança toda soubesse que durante um bom tempo três cavaleiros da ordem de Azure estiveram a proteger a jovem enquanto seu pai estava envolto em seus problemas políticos.

Ainda sem saber como reagir à abrupta morte de Yochanan, sua filha Celestis pediu para que a levassem de coche até as masmorras, pois não teria condições de ir à cavalo.

Noite de Ano, Paço dos Arcanjos.

-O QUE DISSE? EXECUTADO? E DESAPARECERAM COM O CORPO? - Aquelas palavras o atravessaram como uma seta. Por um segundo, faltou-lhe reação. A garganta secou e a mão tremeu por um segundo. Mas logo estava fechada em um punho, esmurrando a mesa.
-JUSTIÇA!!! QUERO TRINTA BATEDORES NO PORTÃO DO PAÇO, AGORA! AVA MATOU MEU TIO! AVA NÃO DEVE VIVER! PARA AS MASMORRAS! ENCONTREM AVA! ATEIEM FOGO AO MALDITO PINHAL SE PRECISO!

Cota de malha, perneiras, meio-elmo, espada e escudo. O escudo de Yochanan. John estava decidido. Era vingança o que queria.

Algumas horas haviam passado desde que o corpo do Prior havia sido retirado das masmorras. Aos poucos os guardas iam acordando, confusos, sem perceber como haviam adormecido por tanto tempo. Ainda não haviam esfregado os olhos o suficiente para ver bem, quando se apercebem de que a cela do Prior se encontra aberta e vazia.

Como justificarariam o desaparecimento de um corpo nas masmorras, mesmo debaixo dos seus narizes? Rapidamente Anacleto se encaminha ao Castelo para avisar o Conselho do sucessido, oferecendo-se Ava para dar a noticia à filha do Prior. De seguida mandaram-no retornar ao seu posto e preparar-se para receber a familia e para os possiveis escandalos que poderiam advir de tal desaparecimento, assim como tomadas as devidas deligências para que o corpo fosse encontrado e quem estaria por detras do seu desaparecimento.

Uma jovem de cabelos negros e brilhantes adentra as masmorras. Ignora por completo a presença do vizinho Nreis, bem como, Imaculada. Passou feito vulto pelas grades com suas longas e negras madeixas, mas foi seguida pelos guardas, que um pouco cambaleantes, iam atrás da visita insólita. Repousou então suas mãos frias da noite, brancas e alumiadas pela esfera platinada no céu sobre as grades. Fitava para o interior daquela cela completamente desorientada. Assim que um dos guardas a interpelou, Celestis rapidamente voltou-se para ele, como quem vira um fantasma:

- Onde está meu pai, onde está o corpo de meu pai! Exijo que entreguem-me, agora! O que fizeram com ele, picaram e deram aos cães?

Agarrava-o pela blusa, aos berros. Estava fora de si, descontrolada.

- Onde está meu pai, onde está o corpo de meu pai! Exijo que entreguem-me, agora! O que fizeram com ele, picaram e deram aos cães?

Conhecia aqueles gritos.

-É Celestis lá dentro! Mariano, Teófilo, Eduardo, venham comigo! O resto aqui fora, Cerquem tudo!

Desembainharam suas espadas e entraram pelos corredores. Os guardas, ainda meio cambaleantes, foram derrubados a pontapés, tamanha era a impaciência e a raiva. Os homens praticamente corriam dentro do prédio. Alcançando as celas, esbravejou:

-CARCEREIRO! EXIJO VER IMEDIATAMENTE O CADÁVER DE MEU TIO! TRAGA-O A MIM, OU TU NÃO VIVERÁS PARA O NOVO ANO!

Ainda um pouco desorientados, os guardas das masmorras são surpreendidos pelos soldados que entram a mando de John Rafael e ficam ainda mais desorientados com os gritos da jovem Celestis.

Em meio à confusão, o guarda que Celly tomava pelo colarinho a empurra, instintivamente, fazendo com que ela seja arremessada no canto do corredor, pois um dos soldados já investia contra ele, talvez para apenas intimidá-lo. Atordoada, a jovem levanta-se com dificuldade e acaba se lembrando de que traz consigo uma espada atada à cintura, a qual foi-lhe útil no trajeto que realizou entre a casa de seu pai e sua própria casa, já no Porto.

Enquanto o soldado de John ainda intimidava aquele guarda, Celly vinha por detrás, a cutucar-lhe nas costas ameaçadoramente, com a ponta da espada.

- Não ouse olhar para trás, tu não sabes o que sou capaz de fazer! Diga-nos, qual o paradeiro do corpo?

O guarda, completamente rendido, não ensaiava resposta.

- Se não sabes, ao menos diga quem possa saber!

Era deveras complicado dialogar com dois jovens Viana.

Ava antevendo toda a situação que poderia ocorrer nas masmorras devido ao temperamento de Celis, rapidamente se apressa a dirigir-se para as mesmas. Fora acompanhada por diversos guardas, que não hesitariam em tomar medidas drásticas, caso necessário.

Rapidamemte Celis e John são mobilizados. Ava estando já descontente com os comportamente dos dois jovens Viana prontamente aponta o dedo a ambos:

- - Meus jovens, mas vocês pensão que estão a onde e que são quem? Parece que se esquecem porque motivos Dom Yochanan foi executado. Aconselho-os a acalmarem-se e a comportarem-se como duas pessoas civilizadas. Querem explicações, querem satisfações? Comportem-se como pessoas que as merecem ter e não como dois jovens selvagens sem educação nenhuma.

O corpo do Prior desapareceu. Os motivos ainda estão a ser investigados. É deveras triste e incompreesnsivel uma coisa destas, mas garanto que tudo está a ser feito para que corpo seja encontrado e para quem o roubou seja punido. O melhor que fazem agora é irem para casa rezarem pela alma do Prior ou até mesmo utilizarem os homens que se encontram fora das masmorras para auxiliar na procura do corpo.

Agora aconselho os a ir embora e sem provocar grandes desacatos, porque não hesitarei em tomar medidas mais drásticas contra vocês, caso seja necessário.

De seguida, ambos os Viana são acompanhados até ao exterior do Castelo pelos guardas.

Cinco não eram páreo para a guarda condal.

-Agora aconselho os a ir embora e sem provocar grandes desacatos, porque não hesitarei em tomar medidas mais drásticas contra vocês, caso seja necessário.

-MALDITA! INCOMPETENTE! QUE O DIABO A POSSUA! Somos em trinta aqui, mas de onde vieram esses trinta há mais, e eu não moverei-me um centímetro deste castelo. Expulse-me todas as vezes que quiser. Mais vezes entrarei e reclamarei o cadáver de meu tio, queiras tu ou não. Se queres tomar alguma medida drástica faça-o agora, SUA MISERÁVEL! EU NÃO A TEMO!

O Jovem Viana estava furioso.

-Eduardo, volte ao Paço, traga mais homens. Celestis, caso deseje. acompanhe-o e fique lá. Todos os demais, preparem-se, Invadiremos estas masmorras mais uma vez, e traremos o corpo de Yochanan, nem que pra isso tenha de ficar aí dentro o meu.

Otaviana chega as portas da masmorra e se depara com os sobrinhos de sua patroa um pouco exaltados. Ela recebera ordem da Dama Marih de os tirar dali.
Bunifácio, seu marido, teria ido ao encontro da Marih lá na cidade de Coimbra, onde a mesma se encontrava numa guerra..
Marih quase desmaia quando o seu fiel funcionário e amigo Bunifácio lhes contara do ocorrido, ele não escondera nada de sua menina (ele a chamava carinhosamente assim), e ela como sempre tomava as decisões de imediato, Bunifácio achava impressionante como Marih sabia guardar as suas dores..
Ela ordenou que Bunifacio mandasse uma carta a sua esposa e que a mesma fosse urgente ao local e tirasse qualquer familiar dali.
Quando eu voltar resolvo tudo. Nada vai adiantar ficarem na porta fazendo tumulto e chamando atenção. E se teimarem e ficarem lá, vão se ver comigo quando eu voltar.. Disse Marih já em tom de ameaça..
Ao falar com os jovens a moça faz um gesto com as mãos mostrando o caminho para seguirem pra casa..

Celestis já se preparava para sair quando Otaviana chegou. Ao presenciar uma figura feminina, portanto, um pouco mais compreensiva e sensível, a jovem a abraçou e, emocionada, deixou que algumas lágrimas caíssem sobre seu rosto.

- Eu já estava preparada para sair. Queria percorrer a vila em busca de pistas. Mas já não tenho mais esperanças!

Bastante abatida, deixou-se amparar por Otaviana e dirigiu-se às dependências externas até alcançar a rua.

A Presença de Otaviana surpreendeu-o. Ora, a notícia já chegara até a Matriarca?

-Meu rapaz, Marih ordena que se dispersem... em nome dos Viana... ela tratará de puni-los. - algum barulho o impediu de escutar tudo com clareza.

-Se assim ordena sua graça, então será feito.

Johnrafael montou em seu cavalo e falou para os homens que ali estavam.

-Senhores. A Matriarca dos Viana, já está ciente do que ocorreu. De acordo com Otaviana, sua criada, elaa tratará de tudo a partir de agora. As forças sob seu comando devem tratar disso em breve. Vamos retornar ao Paço dos Arcanjos e preparar-nos para tal chegada!

Os cavaleiros guardaram suas espadas e voltaram para suas montarias. Johnrafael passou pelos homens, tomando a dianteira da coluna.

-Heitor! Quero mais três homens no Pinhal do Ruivo. A prioridade agora é a segurança da senhorita Celestis.

Otaviana recebe o abraço da menina Celis e escuta quando o menino Rafael dá as ordens aos rapazes. Amparando a menina, Otaviana segue para o Paço em companhia dos mesmos. Uma sensação de tristeza se apodera de si e ela olha discretamente para trás buscando quem sabe, um milagre de ver Dom Yochanan...