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[RP Semi-Privado] As Terras do Ermitão

Ava


]Saindo desajeitadamente da carruagem, Ava quase tropeça e cai, mas felizmente o jovem William amparou-a a tempo. Queria conseguir disfarçar o nervosismo, mas as suas bochechas encarnadas, haviam-na traído. Olhava ansiosa para todos os lados e o seu coração batia a um ritmo desenfreado na ânsia de o ver. A promessa de um reencontro durava à demasiado tempo...

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Narrador_do_ermitao


Foi o jovem Bento, o mais jovem dos três abençoados quem, em suas vestes negras, aguardava no exterior da cabana junto ao rio para receber a convidada do Prior. Bento não devia passar dos 15 anos de idade, mas em seus olhos cor de mel havia uma ancianidade que desconcertava a muitos. As anciãs das aldeias diziam que o menino tinha a alma idosa, o qual não era de todo uma apreciação errônea.

- Seja bem vinda minha senhora. - disse o jovem Bento fazendo uma vênia apenas com a cabeça. Mantinha as mãos unidas por dentro das mangas da túnica que usava o que o asemelhava a um jovem monge de algum mosteiro retirado da civilização. - Ele a receberá agora. - e então voltando-se para William ele completou. - Maese, Benas está junto ao que buscas ao outro lado da casa. E então Bento indicou a porta ao mesmo tempo que oferecia o braço para que Ava se apoiasse nele.

Ao outro lado da casa o silêncioso Benas aguardava junto a um sudário impecavelmente fechado, apenas restava costurar a parte que cobria a cabeça do falecido. Um homem qualquer, uma vítima dos tempos turbulentos que decorriam. Sua contextura e porte cumpririam seu propósito, Benas ergueu o pano solto, o rosto destruído por animais carronheiros impedia qualquer identificação, os cabelos assemelhavam-se muito aos do outro. O morto vestia as vestes negras, maltratadas já pelo clima e a intempérie, mas ainda facilmente reconhecidas pois o trabalho de uma Mestre Fabri não se desgasta facilmente.

Por meio de gestos ele indicou à William que observasse as mãos cruzadas sobre o peito do morto, ali o detalhe definitivo repousava no dedo do corpo, o anel de safira.

No interior da cabana, em uma meia sombra produzida pelo lume do fogão, ele aguardava-a. Vestia a túnica negra sem qualquer marca, em sua mão já nenhum anel havia, os cabelos e a barba se mantinham bem cuidados e nos olhos haviam o mesmo brilho de sempre. Ele observava o vazio, como se estivesse a ter uma visão além da vista humana. Ele não se moveu quando Bento e Ava entraram na cabana.
--William_algrave


William fez uma vênia a Benas e a Dama Ava, e dirigiu-se ao local onde deveria ir. Aquela preparação de um falso corpo era importante, ainda mais depois que Apolinário levantara suspeitas.

O hiberno achou uma pena que o trabalho da irmã fosse sacrificado daquela forma, mas era um sacrifício necessário e por uma nobre causa. Ocorreu-lhe perguntar de quem era realmente o corpo, mas aquela informação não era necessária no momento, ou ao menos era algo dispensável. Contanto que atendesse ao mister e fosse alguém de quem não se desse falta, tudo bem.

- Ao menos o prior terá um funeral digno, ele certamente merece.

William comentou enquanto observava.
Ava


Ava não conseguiu disfarçar o desapontamento quando percebeu que não era o velho Prior a recebe-la. Na sua impaciência de uma jovem por vezes esquecera-se que o Prior era um homem maduro e que as suas atitudes jamais seriam iguais às dos jovens com quem se cruzava pela cidade e pelas tascas.

Já se apercebera que deveria esperar sempre o oposto do que queria, porque ele era misterioso e reservado o que iria dificultar um pouco que o conhecesse bem.

Afastou esses pensamentos da sua mente e caminhou de braço dado com o jovem que os viera receber até uma cabana. Quando entraram na mesma o tão esperado reencontro aconteceu, mas Ava não conseguiu decifrar o que estaria a passar pela cabeça do Prior e a sua imobilidade por momentos fe-la temer o desfecho daquele reencontro.

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Yochanan


Yochanan piscou algumas vezes despertando-se do transe pouco tempo depois da chegada de Ava e Bento à habitação. Ele olhou ternamente para Ava, a jovem procuradora pública que lhe havia dado voz de prisão, a jovem que provou ser uma aliada inusitada, inesperada e impensável o qual a fazia perfeita para o papel que o Prior desejava que ela cumprisse, a jovem cujo rosto não abandonava seus pensamentos e cujo gosto não deixava seus lábios.

- Bem vinda a meu humilde refúgio, minha querida, e sinto muito, mas devo pedir-te que faça uma última coisa por mim antes que nos reencontremos. - ele disse primeiro em tom brincalhão mudando em seguida para um tom muito mais lúgubre e sem se levantar imediatamente. De suas vestes, provavelmente de um bolso interno, retirou um pequeno quadrado de pergaminho dobrado e lacrado com seu selo. - Peço-te que entregues esta carta no Paço dos Arcanjos à meu sobrinho Johnrafael. A quem perguntar diga que a encontraste caída em minha cela. - Ao entregar a carta à Ava sentiu sua mão roçar com a sua e aproximou sua face à dela, e sussurrou: -Minha vida está em vossas mãos. - e então tocou brevemente os lábios dela com os seus, afastando-se em seguida. - Bento lhe mostrará onde podes descansar hoje, amanhã partirás antes da primeira luz. - ele concluiu saindo do quarto ao exterior de onde em seguida entrou Bento.

Uma vez do lado de fora o Prior caminhou até onde estava Benas e William, este último lhe dava as costas quando se aproximou e disse. - Que noticias me trazes de Coimbra, Hiberno?

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--William_algrave


Ao notar a presença do prior, William virou-se de imediato. Ainda que buscasse permanecer de bom ânimo pela missão cumprida, os acontecimentos que antecederam sua vinda para o refúgio do prior atormentavam seus pensamentos.

- Tenho notícias sim, de Coimbra, do Porto e da Irlanda. Não sei por onde o prior gostaria de começar, mas já que perguntou primeiro por Coimbra...

Ele disse e fez uma vênia saudando o prior e em seguida continuou.

- Em Coimbra chegaram tropas da Aliança Celta, atendendo ao chamado dos Conselheiros para expulsar o exército invasor que veio de Lisboa. Há um certo burburinho, talvez pelos portugueses não estarem habituados a ver tanto poderio militar, talvez por serem desconfiados em relação a estrangeiros. A chegada deles me trouxe também notícias de minha terra. Não há mais azures em Hibérnia, eu sou o último. Parece que a aliança de Apolinário com Adrian trouxe frutos terríveis.

William estava tenso, preocupado. Depois de uma breve pausa, ele continuou. Infelizmente, as notícias que ele trazia eram amargas.

- Letícia caiu em combate e Timóteo está morto. Apolinário nos confrontou no Porto. Ele tentou sequestrar Ava e certamente planejava assassinar Letícia. Ela sobreviveu, como a última dentre os Medali. E minha irmã é agora a última dentre os Fabri Telae.
Ava


Ava não foi capaz de escutar todas as palavras que lhe haviam sido ditas. Encontrava-se num estado de tamanha felicidade que temia que tal não fosse possivel. Estremeceu quando sentiu a mão do Prior roçar a sua e segurou com força o pedaço de pregaminho que este lhe havia dado.

Depois sentiu o leve toque dos seus lábios e buscou dentro de si forças para que as suas pernas não fraquejassem e a traissem.

Após o Prior se retirar, seguiu Bento até aos aposentos onde passaria a noite. Deitou-se em cima da cama, com o pedaço de pregaminho na mão, não queria dormir pois tinha medo de que tudo não passe de um delirio seu.

A vida dele dependia dela e o prometido reencontro, na sua plenitude estaria próximo, apenas teria que ser mais paciente.

No dia seguinte teria a sua missão, até lá iria continuar a relembrar o toque dos lábios dele, que confirmavam que o sentimento era reciproco.

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Yochanan


- Hmmm. - fez o prior levantando o rosto para o céu límpido deixando que o frio sol invernal tocasse seu rosto. - Celestino conseguiu reunir temíveis aliados em nossa contra. Um trabalho que apenas agora temos alguma ideia de sua real dimensão. Não creio que a Ordem como a conhecemos sobreviva a esta guerra, mas o nosso propósito se manterá vivo e nossa luta continuará ainda que reste apenas um de nós. - O viana disse sem baixar o olhar como se estivesse a ler estas palavras em alguma linha traçada nos céus que apenas ele pudesse ver.

- Mas novos guerreiros se erguerão a favor do Equilíbrio, para continuar a nossa luta, e é para guiá-los que devemos sobreviver, este será o nosso propósito agora, manter vivos a quantos nos sejam possível. Deves ir ao Paço dos Arcanjos com a senhora Ava, chegando lá fale com Maese Teodoro ele providenciará os cuidados que Letícia necessita e reúna aos nossos homens que restem lá. Se Maese Eleazar sobreviveu ele deve estar no Castelo de Portelo, ajude-o. - O Prior pediu. - Por enquanto o vínculo com Nicole protegerá vossa irmã. E enquanto eu ainda estiver morto e meu corpo... - ele disse indicando a mortalha que jazia junto a eles. - for enterrado minha família estará a salvo. - ele disse convicto.

-Vocês devem partir antes da primeira luz, Benas providenciará um leito para si e os três abençoados prepararão tudo para sua partida. Você deve descansar agora. - Yochanan concluiu com aquele tom de voz tão seu, suave mas que deixava claro que não haveria discussão quanto ao cumprimento de suas ordens.

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--William_algrave


- Não sei se é uma boa ideia pensar em Nicole como proteção para minha irmã. Isso é no mínimo inusitado. Vamos ver como será depois que eu matar o Adrian.

William ouve atentamente as palavras do prior, e apenas no que ele diz em referência a Beatrix é que o hiberno retruca. O resto ele concorda sem muitas considerações.
Ava


Ava adormeceu tarde, na esperança de que o Prior a visita-se para se despedir dela, mas tal não aconteceu, Nas suas mãos permanecia o pregaminho que lhe foi entregue por ele. A vida dele dependia daquele pregaminho, e a vida dela dependia dele. Enquanto ele vivesse o coração dela bateria sempre por ele, desenfreadamente porque já se apercebera que não seria tarefa fácil amar um homem tão obscuro. Mas ela estava disposta a isso enquanto ele lho permitisse, e foi com isso que sonhou nessa noite.

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Narrador_do_ermitao


Sim.... - disse o Prior longa e pausadamente antes de se retirar caminhando em direção ao rio. Seus trajes contrastando com o manto alvo do chão nevado. Ele caminhou até chegar à borda do rio e então virou e começou a seguir o curso de água. Seu passo era tranquilo e tão leve que quase não deixava marcas na neve fresca.

Benas indicou à William que o seguisse, e o guiou ao quarto que dividia com Bento e Bettino, onde uma cama havia sido já preparada para receber William. Após deixá-lo ali para que repousara, se reuniu com os outros dois abençoados para fazer os preparativos para a partida de William e Ava na manhã seguinte. Apenas após a última luz do dia o Prior retornaria. Nenhum deles sabia para onde o Prior ia, e também não perguntavam, mas viam como aquelas caminhadas de fim de tarde pareciam ajudar ao Prior a se recuperar.

Prepararam o corpo que representaria o Prior em um caixão de tábuas de madeira que mais se assemelhava a uma caixa que a um féretro, amarraram-no na parte de trás do coche com tiras de couro provando sua firmeza várias vezes.

No alto as primeiras estrelas despontavam quando o Prior retornou refazendo seu caminho, e fazendo um vênia aos três, se aproximou para ver os preparativos.

- Tudo está preparado para a partida deles, meu senhor. - disse Bento.

- Vocês os acompanharão, e velarão para que o corpo deste pobre homem receba os últimos ritos de acordo aos ensinamentos dos Nove. - respondeu o Prior.

- Ma mio senhor, não podemos, o senhor.... - começou a dizer Bettino, mas ele foi interrompido por um gesto de Benas quem se limitou a fazer uma vênia em assentimento ao pedido do Prior.

- Cuidem-se meus amigos, vossa força nos será necessária na nova alvorada que se aproxima. - ele disse a modo de despedida. - Chegado o momento retornarei, até então devem tomar cuidado e se protegerem. Agora devemos tornar-nos uma semente no deserto.

A noite passou tranquila, e o Prior a passou em vela, no alto de uma das colinas que observavam o vale abaixo no qual estava a cabana, com o olhar nos céus noturnos, ele viu o passo do Caçador, e a trajetória das Errantes, a firmeza da Estrela do Norte, e o percurso da Lua no campo estrelado.

Algumas horas antes da primeira luz da manhã ele percebeu uma presença junto a si...
Fedelmid_sonhadora
(Fora do RP.)
Yochanan


Ao sentir a presença por primeira vez, o Prior percebeu que não era uma presença física, mas algo pertencente às artes antigas, algo que, ele esperava, ainda se encontrasse fora do alcance de Celestino e seus sequazes. Mas aquele era um momento delicado pois para que seu plano desse certo, eram poucos os que poderiam saber que ele continuava vivo. Outras vezes naqueles dias ele sentia a presença, mas naquela noite havia algo de diferente, a presença não estava percorrendo o éter mas buscando-o especificamente. E havia algo naquela presença que ele reconheceu e apenas por isso, sentado sobre uma pedra plana e com o olhar fixo no horizonte ele deixou-se levar até aquele estado de elevação consciente que apenas a meditação lhe permitia.

Ele se deixou levar por aquela energia que o buscava, desta forma ele não deixaria rastros no éter, e ele então se encontrou em um jardim com dois confortáveis bancos de madeira. Ele agora estava sentado em um, e o outro era ocupado por uma senhora de idade incalculável.

Em silêncio ele fez um gesto respeitoso e ela falou, e ele escutou.

O encontro chegara a seu fim, e ele retornou ao alto da colina sobre a pedra plana. No horizonte as primeira luzes clareavam os céus, no vale a pequena comitiva preparava-se para partir. Com passos longos ele desceu para despedir-los e entregar uma nova missão aos abençoados.

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Ava


Ava acordara cedo naquela manha. Apenas algumas horas a separavam do seu regresso ao Pinhal do Ruivo para matar saudades do seu irmão.
Após se banhar numa tina que se encontrava no quarto, Ava começa a vestir-se, mas depressa hesita. No pequeno espelho que se encontra à sua frente, a imagem do Prior observando-a refletesse. Sem pressas, escova o seu cabelo e prende-o no seu habitual poupo com apenas algumas madeixas soltas junto ao rosto.
De seguida volta um pouco a cabeça na direcção do Prior e faz sinal com o olhar a este para que a ajude com os atilhos dos seu corpete que sozinha lhe seria impossivel apertar, ou talvez não, e espera que este se dirija a si.

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--William_algrave


Após deixar seu leito, William arrumou-se e foi para fora da cabana. O sol ainda não despertara. Ele queria conferir atentamente se os preparativos para levar o substituto estavam prontos e a contento. Ele quis conferir por si mesmo, apesar de isso ter sido feito por Bento. A carroça aguardava apenas os demais passageiros para partir. Assim, ele tomou seu desjejum em companhia de Bento observando a paisagem nevada.

Ele estava ansioso para retornar. Queria saber se Letícia se recuperara, e acima de tudo queria saber se a irmã estava bem. A proximidade de seu inimigo o preocupava. Ele ansiava por encontrar Adrian e dar a ele a morte, como dissera a Nicole. Esse era o outro problema que precisava de um desfecho. Adrian ajudara Apolinário e ele estava próximo, próximo demais.
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