Durante longos minutos o Bispo esperava em reflexão, sentado na sua cadeira, enquanto um amontoado de gente ia entrando na Catedral. A cerimónia tinha tido uma afluência admirável. Tendo entrado o protagonista da coroação, depois de um simples cumprimento, e assim que se tinha feito silêncio completo, Luís começa a falar.
-Damas e Cavalheiros de todo o Reino, estamos aqui hoje reunidos, sob o olhar de Jah, para coroar um novo conde para Coimbra.
Este é sem dúvida um importante dia para o nosso Condado, pois o Conde não serve simplesmente para ostentar o título, é o Conde quem conduz o Condado à prosperidade.
O Monsenhor lê então um episódio da vida de Aristóteles.
Citation:Num cinzento dia de Inverno, um discípulo, que havia chegado ao fim da sua aprendizagem, veio ao encontro de Aristóteles antes de o deixar.
O discípulo: Caro mestre, agora que vou ser entregue a mim mesmo, há uma coisa que gostaria de saber.
Aristóteles: Escuto-te, augusto discípulo.
O discípulo: Formou-me nas artes da lógica e da ciência metafísica, mas nada me disse quanto à moral.
Aristóteles: O que dizes é verdade, meu amigo. É com efeito uma lacuna do meu ensino. Que queres saber exactamente?
O discípulo: É importante para um homem, creio eu, saber diferenciar o bem do mal, a fim de seguir as regras que o conduzem ao primeiro, e que permitem evitar o segundo.
Aristóteles: Certamente.
O discípulo: O que me conduz a uma simples pergunta. Mestre, o que é o bem?
Aristóteles: É um problema muito complexo e, ao mesmo tempo, de uma simplicidade límpida como o cristal. O bem, no seu princípio, é a perfeição da natureza do objecto, da sua substância."
O discípulo: Mas porquê, caro mestre?
Aristóteles: Porque o bem final reside no divino, indubitavelmente. E para identificar o bem, é suficiente, por conseguinte, unir-se à análise da essência do divino. A substância do todo-poderoso é claramente pura e perfeita, o bem pode ser apenas a perfeição da substância, e, por conseguinte, da natureza de uma coisa. Compreendes?
O discípulo: Sim, mestre, compreendo.
Aristóteles: Ensinei-te, caro discípulo, que a natureza de uma coisa reside no seu destino, dado que o movimento revela a substância do objecto. Sabes por conseguinte qual é a natureza do homem, não sabes?
O discípulo: Certamente mestre. A natureza do homem é viver em colectividade, e esta colectividade toma o nome de povoação.
Aristóteles: Exactamente. O bem do homem, ou seja, o tender a realizar a perfeição da sua própria natureza, é por conseguinte uma vida dedicada a assegurar as condições da harmonia na povoação. Ora, o bem da povoação é todo aquele que participa no seu equilíbrio, dado que a natureza da colectividade é perpetuar-se. Assim, por conseguinte, podes constatar o bem do homem conduzindo ao bem da povoação.
O discípulo: É notável!
Aristóteles: Com efeito. Vê, o homem faz o bem apenas integrando-se plenamente na povoação, participando na organização, e fazendo qualquer seu possível para manter a harmonia.
O discípulo: Então, mestre, o homem de bem é por conseguinte o cidadão?
Aristóteles: Não foi isso que eu disse, caro discípulo. Um escravo pode ser um homem de bem, se tem consciência da sua própria natureza de homem, e que sabe satisfazer-se da sua condição, porque assim trabalha para a manutenção do equilíbrio da povoação. A organização é apenas a participação nas assembleias.
O discípulo: Obrigado mestre, as suas respostas satisfazem-me.
Aristóteles: Estou feliz, meu amigo.
E Aristóteles nunca mais voltou a ver o seu discípulo que, de acordo com a lenda, viveu uma existência exemplar, inspirada pelos princípios da virtude.