Pekente
A taverna parecia cheia, estava difícil Peke conseguir um lugar para manter-se reservado e pensar em tudo que acontecera naquele dia. De repente um homem encapuzado aproximava-se de onde ele bebia, o homem não parecia com os supostos assassinos que tentaram ceifar sua vida. suas roupas eram escuras mas tinha algo de nobre nelas, até o corte era diferente de uma roupa comum, mas Peke não baixaria sua guarda novamente, Pekente manteve o punho cerrado na adaga escondida esperando qualquer avanço daquele homem o qual não aconteceu, o único movimento que o homem fez foi sentar-se a seu lado.
Pekente então tranquilizou-se mais, baixou sua cabeça e continuou com seus pensamentos e a terminar sua bebida, quando ouve uma súbita voz do homem a falar próximo de si...
-Dom Pekente de Monforte, presumo! Soube que estava alojado nesta estalagem e decidi falar consigo. Tenho informações sobre esse misterioso homem que se anda a fazer passar pelo Rei.
A expressão pensativa de Pekente logo muda para surpresa "Dom Pekente de Monforte", realmente, ele era Monforte, mas quase ninguém o chamava assim... e o "Dom" Peke não era nobre... contudo, havia algo de familiar na voz...
De Repente homem olha para porta e põe-se em guarda, parecia estar preocupado, mas logo vê que não era nada, baixa a guarda e põe se a explicar sem nem mesmo dispor de seu nome...
- Quem é v...
Antes de Peke poder terminar ele inicia a explicação...
- A forma como o impostor se comporta é bastante reveladora. Imita o Rei na perfeição, mas não o homem por detrás da coroa. Reproduz a postura habitual de D. Pedro, que se dirigia à multidão com a mão direita encostada ao peito, mas não conhece os motivos que se escondem por detrás desta pose. Há muito que Pedro, em momentos de tensão, se habituou a apertar entre as mãos o medalhão que trazia sempre ao pescoço. Uma oferta de Dom Guido de Albuquerque, comprada numa das suas viagens a Roma. É um pequeno medalhão de ouro com um retrato de Aristóteles gravado na frente e, no verso, a frase Eu acredito na acção divina. O impostor nunca jogou poker com o Rei, ou saberia que aquela mão no peito está a apertar o medalhão! Nunca percebeu que o Rei, quando se dirigia a multidões, procurava no medalhão o conforto e a coragem para enfrentar a timidez. Durante a sua aparição na Praça, o impostor manteve a mão junto ao peito, mas nem por uma vez tocou no medalhão. É alguém que conheceu o Rei, mas que nunca privou com o homem e que desconhece os seus segredos.
-Estive presente no início dos ritos fúnebres, quando o corpo pálido e inerte do Rei foi metido na mortalha. Saí após a leitura do testamento e antes do Rei ter sido colocado no túmulo, mas vi claramente que tinha o medalhão ao pescoço e o sinete real no dedo. Lembro-me de ter pensado que o medalhão deveria ter sido entregue a Dom Guido, como sucedeu aos restantes objetos religiosos do Rei, mas não dei muita importância a isso.Temo que alguém tenha arranjado forma de aceder ao cadáver e furtado tanto o medalhão como o sinete...
o Homem olha para trás, parecia bastante preocupado, fala mais algumas palavras e sai. Peke pouco pode falar, pois o homem parecia fugir. Então pensa no que desconhecido disse " As minhas suspeitas recaem sobre os Irlandeses. Facilmente poderiam infiltrar alguém no funeral e têm tudo a ganhar com o aparecimento de um terceiro pretendente ao trono."... "faz sentido" Peke pensou... "Mas os candidatos já tinham suas posições bem definidas e os Irlandeses provavelmente já tinham o seu suporte indireto..."
Mais informações faziam Peke manter-se atento: um medalhão dado por dom Guido, uma postura imperfeita por detalhes, a presença deste homem no funeral... mais do que isto... "Pedro". Já estava óbvio quem dera as informações, e isto tirava muitas duvidas de Pekente.
Com um discreto sorriso direcionado a caneca a qual Peke segurava... Ele percebe os perigos que aquele homem passara para trazer-lhe as informações, Peke diz com uma voz que parece mais um sussurro...
-Obrigado, Dom Maltese...
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"Ser bom é facil, dificil é ser Justo"