Queiroz
14 de Março de 1463, Porto
Naquele singelo sábado, a meio do frio mês de Março, Queiroz tinha terminado o estudo (na vertente portuguesa) de uma nova disciplina. Uma vez que o ensino e, em parte, as técnicas diferiam, o jovem inglês optou por se inscrever na Universidade do Porto para algumas aulas, e naquele sábado tinha recebido informações que tinha completado uma nova matéria - Conhecimentos Marítimos Básicos.
O jovem optou por manter a sua rotina diária, era um grande feito aquele, mas nada que merecesse qualquer festejo. Entre mais um longo dia à procura de interessados nos seus serviços militares e dar uma aula de latim na universidade local, o jovem foi-se deitar.
A lua já se encontrava bem alta, e somente ela iluminava a escuridão das ruas da capital. Queiroz apressou-se a fechar as portas da sua propriedade ainda em construção, entrou no pequeno anexo onde pernoitava e ali também trancou a porta e, na ausência de outros orifícios por onde uma pessoa pudesse entrar, colocou a cadeira da secretária a trancar também a porta.
Já aconchegado naquela cama pequena, o sono começou finalmente a pesar e não tardou para que caísse sobre si o merecido descanso daquele atarefado e cansativo dia. À medida que as horas se foram passando um pesadelo começou a desenvolver-se...
- Queiroz estava no seu quarto aborrecido com aquilo que parecia ser a análise de uma obra em latim, o próprio não conseguia focar-se no conteúdo.
- OPEN THE GATES!¹ - gritou desalmadamente um dos guardas, o que chamou a atenção de Queiroz que se aproximou da janela
Dois outros guardas saíram imediatamente para o exterior, de lá ajudaram uma pessoa a levantar-se e encaminharam-na para o interior. O aspecto deste dava a entender que tinha sido atacado e deixado numa beira da estrada, mas o cuidado com que os guardas o ajudaram mostrava ser alguém que estes respeitavam.
O jovem inglês ficou ali parado, congelado, a olhar para o rasto de sangue que tinha sido deixado.
Fora daquele pesadelo, na realidade ainda na sua cama, Queiroz suava e remexia-se como que preso dentro daquele pesadelo. Apesar de na realidade, quando aquele incidente ocorreu, o jovem ter saído em socorro do homem atacado, naquele sonho não se conseguira mover e a incapacidade começara-o a roer por dentro, afinal apesar de um sonho aquela pessoa era o seu pai.
Do nada Queiroz acordou, embora ainda mantivesse uma neblina em sua volta que apenas o fazia focar naquilo que estava diretamente à sua frente. À sua frente encontrava-se uma jovem de longos cabelos negros, lábios e bochechas rosadas.
- Pronto. Já passou... - afirmou num baixo tom que transmitia segurança - Afastei-te desse pesadelo que te consumia. - e nesse momento as suaves mãos da bela jovem tocavam as suadas mãos de Queiroz
Nada mais havia sido dito. Queiroz sentiu aquela tranquilizante presença ali à sua frente por mais alguns minutos, até que voltou a adormecer. Adormeceu e aquele sonho não o voltou a assombrar naquela noite, nem nas seguintes.
Na manha desse dia, ao acordar com o barulho dos inúmeros trabalhadores que recomeçariam as obras na sua mansão, o jovem olhou em volta na procura daquela esbelta figura de tons rosados, mas não a encontrou, e a porta do seu pequeno quarto mantinha-se travada com a cadeira que na noite anterior lá tinha colocado.
- OPEN THE GATES!¹ => Abram os portões!
_________________