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Bento, o meu nome é Bento. - Informou com um sorriso antes da jovem criada abandonar a antessala.
Assim que a criada desapareceu da sua vista, o homem suspirou de alívio, pois sentia-se satisfeito consigo mesmo. Certo era que aquela jovem mulher não era dotada de grande esperteza ou vivacidade, tendo sido portanto facilmente ludibriada, sem sequer duvidar por breves instantes que as suas intenções não fossem as melhores. Todavia, não podia deixar de congratular-se pelos feitos do dia.
Deixou que os seus olhos observassem pausadamente os pormenores daquela antessala, notando como a Rainha parecia favorecer os tons claros, nomeadamente rosas e vermelhos. Sem demoras, pousou as rosas que trazia num braçado sobre a mesa de mármore e olhou em volta até encontrar a porta que lhe parecia dar acesso ao quarto de Sua Majestade. Pé ante pé caminhou serenamente, espreitando de quando em quando sobre o ombro para se certificar que ainda estava sozinho. No momento em que a sua mão tocou a maçaneta, o seu coração partiu num galope desenfreado e calmamente rodou o engenho até que a porta se abrisse.
A Câmara Real seguia o mesmo padrão de decoração que a antessala, mantendo a harmonia do espaço e claramente evidenciando os gostos pessoais da sua paixão. Sem hesitar, Bento aproximou-se da alcova de Sua Majestade e deslizou uma mão sobre a colcha, imaginando o corpo esbelto e alvo de Marih por entre os lençóis. Foi com este pensamento que o homem se ajoelhou no leito real, apoiando ambas as mãos, e inalou o odor divino e perigosamente sensual. Fechou os olhos e perdeu-se naquele aroma por breves instantes até o seu corpo reagir ao mais primordial dos desejos.
Curioso e sem qualquer vontade de abandonar os aposentos reais sem uma recordação que lhe inflamasse a ânsia enrijecida, Bento começou a abrir as gavetas e portinholas do mobiliário que enaltecia o quarto até encontrar os tecidos de seda delicada e suave, tão suaves quanto a pele da sua Marih, mas certamente bem menos cálidos do que Sua Majestade. Rapidamente, avaliou o espólio de camisas de dormir e decidiu-se por uma vermelha e outra branca. Mais tarde, os seus pensamentos atravessariam o limiar entre o pecado e a rectidão.
Após esconder as camisas de noite dentro de um pequeno saco e de se certificar que a sua presença naquele quarto não seria notada a uma primeira vista, Bento abandonou a Câmara Real, retornando à antessala.