Ver a Rainha dispensa-lo tão rapidamente depois daquele primeiro encontro a sós dilacerou-lhe o coração. Apesar da mágoa, o homem do capuz retomou ao baile e permaneceu durante alguns momentos, bebendo mais copos de vinho naqueles breves instantes do que na semana que antecedeu as festividades. O retorno a casa foi tão amargo que o encapuzado jazeu no leito durante uma semana, ora sonhando com a bela Marih, ora engenhando novos esquemas e feitios para a fazer sua. Desejava-a com tanta vontade que raras não eram as vezes em que a agonia de não a ter se assemelhava a uma dor física excruciante e incapacitante. Mas hoje, hoje seria um dia diferente.
Naquela manhã, o homem do capuz voltou a abrir as janelas do pequeno casebre aninhado por entre altas árvores, banhou o corpo no riacho e aparou a barba viçosa e rebelde, temporariamente abandonada às intempéries de um coração choroso. E, agora, o encapuzado caminha em torno da praceta da vila, procurando uma vendeira que lhe apregoe as mais belas rosas do Reino de Portugal, pois a sua Rainha não merece menos do que o arquétipo da perfeição. Quando finalmente as encontra, não são nada mais nem menos do que a infinidade do requinte, verdadeiras obras-primas de natureza, tão fechado é o botão da rosa daquele tom vermelho carnal, incomensuravelmente sensual e venéreo.
De ramo em riste, entra nos Jardins Reais pelo portão dos serviçais, escondido por entre trepadeiras e frondosas árvores, invisível para o comum dos mortais, tão vistoso para um homem como ele, um homem que sonha com os suspiros decadentes da Rainha gemidos ao seu ouvido. O jardim está calmo como é habitual, sendo que apenas o chilrear dos pássaros se faz ouvir e, por breves momentos, ele senta-se num banco à sombra, ponderando os próximos passos.