Azrail
Meu nome é Azra'il e acompanhei a história da humanidade por eras incontáveis, onde havia conflito ali estive, onde houve morte e dor, ali estive. Vi os melhores e os piores momentos da humanidade, e agora lhes contarei a história de uma guerra, uma guerra como o Reino de Portugal jamais havia visto. Uma guerra que oporia Aristotélicos a uma aliança forjada entre Hexistas e Averroístas. Este é o meu relato:
Nos idos de Março de 1463 dois homens se encontram no alto de uma serra no leste português, em um lugar esquecido por muitos, recordados por poucos e encontrado por menos ainda. Um deles desejava salvar seu filho, o outro lhe daria os meios para fazê-lo. Mas a tragédia se abateu sobre a missão do angustiado pai.
Tropas haviam partido a toda pressa da serra, mas antes que seu salvador pudesse guarnecer a seu filho, acusado pelo Bispo Nreis e a Inquisição Aristotélica de bruxaria, o garoto foi capturado pelos padres inquisidores. Apesar da luta acirrada e da perseguição extenuante, os Aristotélicos haviam conseguido escapar com o prisioneiro e fazer valer sua sentença: Morte na Fogueira.
Os averroístas conseguiram no entanto recuperar o corpo carbonizado do jovem, e retornar com ele para o alto da serra. Em dor, o pai que perdera seu filho brada aos céus e aos infernos sua declaração de guerra à aqueles que lhe arrebataram o filho.
Aliando-se à dor de seu amigo e visando a destruição do inimigo comum o Mouro Damasceno convocou a todos os seus aliados para o que poderia ser a pior guerra que portugal alguma vez vira desde as batalhas da reconquista portuguesa.
A medida que os aliados dos mouros e hexistas se reuniam no alto da serra, em um convento aristotélico o bispo percebia as consequências da aliança entre o Hexista Pekente e o Mouro Damasceno revelada pelo roubo do corpo do filho do primeiro e convoca seus próprios agentes.
O tabuleiro se armava, o campo, portugal, de um lado Aristotélicos, do outro Averroístas e Hexistas em uma aliança até então impensada.
Ainda tardariam alguns poucos meses até que as tropas se reunissem de todos os cantos do Reino e além dele, um dos conselheiros do Mouro Damasceno aproveitou deste tempo para tentar impedir uma guerra que arrasaria com Averroístas, Hexistas e Aristotélicos por igual e que poderia durar por anos incontáveis, um lado sempre buscando vingança sobre o outro.
Foi nas Nonas de Julho que ele encontrou a solução, uma solução que postergaria o que agora já era infelizmente inevitável. A morte do Bispo!
E assim nos idos de Julho de 1463 houve um funeral na grande Catedral do Reino de Portugal. O Bispo estava morto, a vingança cumprida, a ofensa paga. Ele esperava que assim aquele conflito encontraria seu fim. Não foi assim. Tardariam ainda cerca de quatro meses, mas o conflito ressurgiria e com ele a guerra tão temida.