Foi com o movimento fluído daqueles acostumados com o manejo das armas que Yochanan colocou-se entre Sarah e a origem do barulho que eles haviam escutado. A mão sobre o punho da espada a meio desembainhar, os sentidos fixos adiante.
Acima deles em algum galho de alguma das árvores que cercavam o claro uma coruja piou, e novamente o farfalhar das folhas fez-se presente. O vulto da ave noturna cruzou o ambiente em picada, caindo justo na origem dos barulhos entre a vegetação. Um momento de agitação e então o bosque silenciou-se novamente. A coruja tinha sua presa e o Viana relaxou; havia ficado mais tenso do que pensara, sua mão ainda estava sobre o punho da espada, os nós dos dedos brancos.
A lâmina retornou à bainha e a cor retornou à mão de Yochanan.
-Não foi nada. - Ele disse respirando profundamente antes de voltar seus olhos para Sarah. -
Está tudo bem. - Ele concluiu. Ousado, tomou a mão de Sarah na sua e disse: -
Venha, devemos ir. - Apenas aquele contato já o deixava apreensivo. Por que aquilo lhe ocorria? Até pouco tempo ele a considerava um estorvo, uma criança apenas, mas ela havia crescido. Ela havia se tornado uma jovem digna dos Salões da mais alta nobreza, de beleza formosa e inteligência aguçada. Ele procurou afastar aqueles pensamentos, mas eles teimavam em retornar.
Partindo da clareira, eles seguiriam por uma trilha a meio escondida no bosque até um riacho próximo, dali seguiriam o curso da água subindo a serra até encontrarem uma árvore coração-de-pedra. Ali eles parariam para descansar um pouco.
Aquela era uma parte antiga do bosque, e isso se sentia no ar, a solenidade dos anos e das eras vividas por aquelas árvores anciãs. Mas era a Coração-de-Pedra que Yochanan mostrava à Sarah. Uma árvore que cresceu sobre um pilar de pedra, suas raízes buscando o solo o rodearam, fechando-o em seu interior com o passo das décadas até cobrir-lo por completo. Naquele momento, no entanto, parte do pilar ainda era visível, apenas o suficiente para saber que ele se encontrava ali. Mas o que fascinava ao jovem Viana era a única inscrição que era possível ver completa, a runa Nov que identificava a uma das Nove manifestações do Equilíbrio, a manifestação da Sabedoria.
Reconhecer as Runas da Primeira Ordem era algo que todos eles aprendiam chegado o momento, uma forma de se conectar com o passado longínquo das Ordens do Equilíbrio. Mas sempre era em livros e documentos antigos, recopiados inúmeras vezes ao longo dos séculos. Aquela, inscrita no pilar, ele havia encontrado por acaso certa vez, e era um de seus mais preciosos tesouros, algo que ele não havia mostrado a mais ninguém, até aquela noite.