Beatrix_algrave
Desde que assumira o cargo de Rainha de Armas, Beatrix havia preferido usar a Biblioteca da Heráldica como local de trabalho, ficando dividida também entre o ateliê do Colégio Heráldico e as salas de atendimento para a recepção de pedidos.
Até antes do ataque que quase a matara, essa havia sido sua rotina de trabalho na Heráldica Portuguesa. Contudo, depois que ela se recuperou dos ferimentos e estava em condições de retornar à Heráldica, ainda assim ela precisava de um local fixo para permanecer e também um local que oferecesse mais conforto a uma convalescente. Desse modo, ela solicitou aos pajens que abrissem o antigo gabinete e que o mesmo fosse limpo e deixado em condições para voltar à função de ser o espaço dos Reis de Armas, como o fora na época que Yochanan ali trabalhara no cargo.
Aquele era um espaço agradável e igualmente dedicado ao trabalho. Painéis, estantes e armários de madeira cobriam as paredes, enquanto logo a frente de quem ingresse estava a mesa da Rainha de Armas, e atrás desta a ampla e única janela daquele gabinete, entre ambas um cadeirão de espaldar alto e retangular com o assento e encosto forrados em veludo vermelho.
Ao lado oposto da mesa havia uma cadeira igualmente forrada à semelhança da outra cadeira, contudo, seu encosto possuía um formato oval e era mais baixo.
Sobre a mesa havia um único castiçal para três velas e um suporte com um livro aberto. Do teto pendia um candelabro de seis velas. Além desses candelabros, outros dois candelabros de ferro, ambos com três velas, ladeavam a porta de entrada. A iluminação abundante permitiria que mesmo durante a noite o trabalho ali persistisse, caso necessário.
À direita de quem ingressava, próximo à mesa, havia um cabideiro com o tabardo da Rainha de Armas dependurado. Junto à parede daquele lado havia um armário e ao lado deste uma escrivaninha com o tampo inclinado rematado por uma superfície horizontal em ambos extremos, sendo a superior mais larga que a inferior, esta última utilizada apenas para apoiar as folhas e evitar que estas caiam pela superfície inclinada. Na superior por outro lado havia um tinteiro de dois bojos e algumas penas e um castiçal de uma vela.
Enquanto que à esquerda, entre a mesa e a porta havia uma pequena mesa baixa com duas cadeiras. Sobre a mesa baixa uma bandeja de prata com uma garrafa e duas taças. Na parede estavam os quadros em memória dos Reis de Armas passados, seus nomes gravados na moldura, incluindo quadros de Dom Leomion e Dom Araj, que desempenhara a função diversas vezes. Ali estava obviamente os quadros dos dois Vianas, Rafael e Yochanan. Um dos quadros mostrava Nicole Casterwill. Beatrix mal lembrava que a prima havia presidido a Heráldica Portuguesa, pois aquilo às vezes soava como um passado distante e irreal. Mas lá estava o retrato da jovem de pele alva e cabelos negros, com seus fulminantes olhos azuis, para assombrar Beatrix.
Havia é claro muitos rostos desconhecidos para ela, alguns de épocas em que a Algrave sequer engatinhava.
Da única janela do aposento, a Rainha de Armas tinha uma visão da entrada do prédio da Heráldica Portuguesa, podendo assim, prevenir-se quanto à chegada de algum visitante.
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