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[RP] Que Festa... E aí vai uma seresta!

Elisabeth.swann


Um brindes as noites recheadas com trovas... que Jah abençoe a docura que nos cerca

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Segrel





O dia estava fechado, “carrancudo” como diziam alhures, com uma cor escurecida que deixava o céu ainda mais carregado lá para lá da direção leste, augúrios de estradas enlameadas e dificuldades quaisquer adicionais, e uma comitiva com Aristarco partira assim mesmo, segundo necessidades desconhecidas para o castelhano, mas que coragem para seguir naquel’ estado de tempo tão adverso.
Encontraria o grupo então n’algum trecho adiante, à direção de Santarém, provavelmente.

Caminhava Sans pelo burgo ainda, arrumando seu capote gasto por sobre os ombros, ainda que de tão roto não passasse d’uma ilusão de guarida contra as gotas d’água que enfrentaria, mas não importava, de qualquer maneira.

Ao estar ao largo defronte à Igreja, notou em sua chegada ao burgo aquel’ primeiro lugar que observara o trovador cantarolando com alguns convivas que ora ouviam-no, ora cantavam juntamente, quando Aristarco repetia rimas mui vezes até que as gentes saíssem com as palavras ou canções tinindo aos lábios.

E então se viu vasculhando a memória um pouco mais ao fundo, qual cantiga de Aristarco ouvira naquel’ dia, pois era uma que o alegrou depois de longa caminhada com direito à escapada de salteador durante o trajeto – uma história para ser contada, ainda que não fosse ele um contador –, e bem fizera alegrar o espírito de viajante após algumas vicissitudes...

Mas não foi difícil: tantas vezes ouvira o trovador cantar a peça durante a situação que a recordação lhe chegara sem gran esforço (inesperadamente, em seu trato com cousas da música) e ele mesmo cantou sussurrante a canção, com seu notório sotaque pucelano:



AL-ZAJÁL

Para que fazer correr,
Apressando o perecer...

Assi que os olhos abrem
Que repouso tão ferem,
Pois siso e senso traem:
De tempo perder.

Para que fazer correr,
Apressando o perecer...

Assi fica engolido
Que torna combalido,
Pois mal d’um emolido
De vil padecer.

Para que fazer correr,
Apressando o perecer...

Assim eis velho dito
Que não se corra ao fito:
Pois homem já é finito
De fugaz viver.

Para que fazer correr,
Apressando o perecer...



Quase caia à tentação de trocar algumas palavras do português para o castelhano, mas resistia bravamente para não alterar canção, afinal sabia Sans Ximeno seu devido lugar que era tão somente o de um mestre-padeiro, e não o de um mestre-trovador: levaria a peça para Valladolid, caso regressasse (o que já era algo mui viável, naqueles recentes dias), e que os trovadores de lá cuidassem das palavras e rimas, traduções.
Se bem que mesmo assim, suspeitava de que o amigo trovador propriamente o fizesse, porque aquel’ “mozárabe” falava mui de Castilla naqueles dias.

Um pouco constrangido, cortou o largo quando as primeiras gotas começaram a pingar, tão frias que se arrepiara prontamente; olhou para o céu cinzento com o cenho franzido e começou a assoviar a cantiga deixando para fazer algum sol dentro de si, enquanto nuvem e nevoeiro (e chuva, por fim) circundavam-no.

Enfim, era preciso correr, para na intempérie não esmorecer (ou humedecer, melhor dizendo), já desafiara o mote da canção enquanto arrumava mais uma vez o velho capote...


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