Jotapen estava sentado à mesa, ao lado de Esther. Havia comido pouco, tamanha era a ansiedade pelo tão aguardado momento. Jota não tinha noção da magnitude da festa preparada por sua irmã mais velha, Bandida. Entre um gole e outro de vinho, Jota reparava nas expressões dos convidados, na maneira como todos estavam se divertindo. Por um momento, Jota fita os olhos em sua futura sogra, Talita, e começa a rir com a cena inusitada, surreal, que vê: Um anão que parecia devorar as mulheres da festa com os olhos, estava com um copo de bebida na mão, rodeando Talita, que estava acompanhada de um rapaz. O Anão, subitamente, empina seu copo de bebida, joga-o para o lado e mete-se entre Talita e o acompanhante. Com os olhos postados logo abaixo da cintura de Talita, o anão tarado começa a falar-lhe alguma coisa, inaudível à Jota, devido à distância e à música ambiente. Jota pensa consigo:
Se este anão tarado vir cumprimentar Esther com aquele olhar, eu abro aquela enorme cabeça com meu machado!Jota dá mais uma olhadela ao redor e percebe que é chegada a hora de fazer o pedido formal. Um tanto desajeitado, Jota enfia a mão no bolso e encontra o anel que conseguiu com um mercador, semanas antes. O anel havia custado alguns bifes, alguns soldos bizantinos, algumas relíquias encontradas após as árduas escavações ao redor da igreja e, ainda, com algumas centenas de cruzados, economizados durante meses.
Era um lindo anel, todo em prata, estilho Three Stone - conforme lhe dissera o mercador - com uma encantadora pedra de diamante ao centro, cercada por duas safiras menores, em tom azulado, que lembrava o mar.
Depois de localizar o anel no bolso, Jota procura um pequeno pedaço de papel, onde havia escrito algumas poucas linhas, com o pedido oficial de noivado. O problema é que ele não encontrava. Mexe aqui, remexe ali, revira bolso de cá, puxa bolso de lá, e nada do rascunho.
Esther encosta uma taça de vinho em seus belos lábios, observando aquela cena de Jota, que a olha com uma expressão de pavor. Esther retribui com um belo sorriso e uma piscadela com o olho esquerdo.
Jota percebe a situação embaraçosa que se meteu, levanta de sua cadeira, limpa a garganta com uma tosse forçada e curta. Na mão esquerda uma taça de vinho e, na direita, uma faca, com a qual bate na taça, chamando a atenção de todos os presentes. E começa o discurso:
Bom, eu havia escrito o pedido de noivado, porém, aquele traste do Galhardo esqueceu de colocar o bilhete no bolso de minhas calças, então, vai no improviso. Dama Talita. Desde o momento que conheci sua filha, fiquei deveras encantado. A partir de que nos aproximamos, dia após dias, o encantamento tornou-se paixão, logo logo, amor. Foi quando eu tive a certeza que a Esther é a mulher da minha vida, com quem quero dividir todos os momentos, por todos os dias que Jah nos conceder sobre a terra. Por isso, Dama Talita, gostaria de, com muito respeito, pedir a mão de sua filha Esther - juntamente com todo o resto do corpo - em casamento.