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[RP Privado] Icovellavna: A magnis maxima

Yochanan


Aforas da cidade de Lamego

O exército do rei mantinha o cerco à cidade há vários meses já, e aquela manhã aparentava ser como muitas outras que a antecederam. Mas a medida que as primeiras luzes da alvorada despontavam no horizonte uma suave brisa soprava ligeiramente diferente enquanto agitava os panos das tendas e barracas que formavam o acampamento.

As brasas dos fogos noturnos brilhavam com o toque do sopro da manhã que carregava as folhas soltas do gramado que havia sobrevivido ao inverno. Caminhos de terra se abriam ali onde incontáveis passos haviam cruzado de um posto de vigia ao seguinte.

Protegida em meio ao acampamento, a tenda real filtrava as luzes da manhã sobre uma reunião entre três homens.

- Majestade, perdoe-me a franqueza, mas tens certeza disso? – As palavras vinham do primeiro homem, a quem o Viana conhecia a muitos anos e havia visto crescer baixo a tutela dos Azure, um dos poucos sobreviventes das batalhas de Portelo.

- Sim Raziel, tenho certeza. Deves fazer com que o artefato chegue nas mãos do rapaz. – Disse o monarca português sem levantar os olhos de um estranho disco de bronze que tinha em suas mãos. – Confio em você para fazer com que ele receba isto. – ele foi dizendo enquanto colocava o disco metálico em um pedaço de tecido de bragal e o embrulhava no grosso pano de linho. – Ele não deve saber de sua origem, ainda. – concluiu Yochanan entregando o embrulho à Raziel.

-Assim será feito majestade. – respondeu o homem fazendo uma mesura e começando a se retirar.

Após a saída de Raziel, o terceiro homem que ali estava, até então calado, falou – Majestade, quanto ao incidente... – mas foi interrompido por um gesto do rei, - Os documentos estão a salvo, é isso o que importa e ele sabia bem disso.

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Leonardodavinci


No Porto

Leonardo despediu-se de Raquel e a observou entrar no quarto dela. Suspirou. Girou a chave na fechadura da porta e entrou em seu quarto. Estava contente, tudo parecia ter se ajeitado entre os dois e tinham já planejado como se manteriam juntos nos dias que se seguiriam. Um sorriso calmo se alojara em seu rosto, sentia liberdade para desfrutar as coisas boas que lhe ocorriam.

Largou o gibão sobre a cama e descalçou as pesadas botas, sujas com a lama escura das ruas do Porto. Cantarolava uma música que ouvia as velhas senhoras de Chaves cantarem, aquilo o fazia sentir-se mais em casa.

Caminhou até sua escrivaninha e notou sobre ela um objeto incomum. Seu reflexo foi retirar a adaga da bainha. Uma caixa de madeira, revestida de veludo vermelho e brocado em ouro desenhando um estranho símbolo no tampo. Não havia qualquer mecanismo de lacre, a caixa podia ser facilmente aberta. Era estranho o objeto incólume sobre a mesa, ao mesmo tempo que parado, detinha uma aura perturbadora em volta, justamente pelo mistério que era seu aparecimento ali. Leonardo revistou o quarto, procurou elementos no quarto que dessem sinais da entrada de alguém ali. No entanto, não havia nada. A porta estava intacta e os objetos estavam exatamente onde ele lembrara de tê-los deixado. O chão não tinha qualquer marca além das que ele mesmo havia deixado. A única coisa que mudara ali, foi a caixa.

Dirigindo-se a caixa, o rapaz a abriu com a ponta da adaga, revelando um embrulho contido em seu interior. Leonardo observou o tecido que parecia envolver uma outro objeto. Ele se certificou de que a caixa não possui armadilhas, e retirou o embrulho de dentro, abrindo o pano de linho que o constituía. Revelou-se a ele então, um disco metálico, semelhante a uma moeda, um pouco maior que a palma de sua mão.

O estranho artefato era composto de sete círculos, que se agrupavam na formação do disco completo. Em cada um dos círculos se alinhavam inscrições misteriosas, símbolos que se assemelhavam a algum tipo de alfabeto antigo, provavelmente, perdido, mas que não eram de todo estranhos para Leonardo. Embora não os pudesse ler, reconhecia alguns dos símbolos, eram semelhantes a grafias de outras línguas antigas, mas eram de certa forma, diferentes e pareciam não formar um sentido específico. Sua mente rapidamente se lançou a tentar organizar os símbolos de um dos círculos, tentava coletar partes e juntá-las, buscava a formação de um padrão na organização da escrita. No centro da moeda, um símbolo maior parecia agrupar todos os outros.

Aquele artefato aguçava sua curiosidade e o mistério que o rodeava continha sua própria atração. A mente do rapaz já se dirigia na busca por uma solução, desejava poder saber o significado daqueles símbolos, assim como daquele estranho evento. Depositou o objeto novamente dentro da caixa e o observou por alguns momentos. Tentava montar o quadro geral. Qual o motivo de alguém ter deixado aquele objeto ali? O quão valioso aquilo poderia ser? Quem poderia ter enviado aquilo para ele?

As perguntas eram muitas, mas ele não as podia resolver. A chave, acreditava ele, estava nos símbolos. Teria que recorrer a manuscritos antigos, comparar textos, encontrar um sistema simbólico semelhante.

Caminhou até a janela, observando a rua que passava em frente estalagem. Olhava os transeuntes, distraídos, transitando de um ponto a outro durante a realização de suas tarefas diárias. Achou curioso que a ele não era permitido a mesma calmaria. Era sempre empurrado pelas forças do destino e pelo seu próprio espírito inquieto de um enigma para outro, de um problema antigo, a um problema novo. Seja lá quem tivesse enviado aquilo, despertara novamente sua mente, a pouco sossegada.

- Você tem a minha atenção... - disse sozinho, um sorriso nos lábios se formou.

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Raquel_


A caminho de Chaves

Leonardo e Raquel seguiam caminho até Chaves em uma carruagem, enquanto Anton permaneceu em Porto para tratar de assuntos pessoais. Havia um clima de cumplicidade entre os dois, pois podiam aproveitar a viagem sem a vigilância constante do irmão mais velho de Raquel. Faziam planos de como poderiam se encontrar com a aquiescência e suporte de alguns subordinados, e durante um certo tempo Anton não estaria por perto para desconfiar. Raquel desejava no fundo que seu irmão estivesse abarrotado de responsabilidades no Porto e não voltasse nem tão cedo.

Mas havia algo novo para Raquel naqueles momentos da viagem, que Leonardo ainda não compartilhara o assunto. Ele levava em seu colo uma caixa de madeira com alguns símbolos talhados, e mantinha sempre uma das mãos segurando-a. Sem cerimônias, Raquel tratou de perguntar sobre a caixa e o que continha, sendo prontamente respondida por seu primo. Leonardo com poucas palavras falou sobre o artefato, e Raquel insatisfeita, pediu para ver.

Pacientemente Leonardo retirou o disco dos invólucros que o envolviam e exibiu para Raquel. Ela tomou o disco em suas mãos com elevada cautela. Desejava saber que objeto era aquele que tanto atraía a atenção de Leonardo. Sua curiosidade crescia, conforme observava as diferentes inscrições feitas nos círculos. Não havia algum modo pelo qual ela os pudesse interpretar, embora pudesse reconhecer que aquilo se assemelharia a algum tipo de língua antiga, jamais havia visto nada como aquilo, nem mesmo quando por tantas vezes e tão inutilmente, se dedicara ao aprendizado do copta que jamais foi capaz de absorver. Acabou atraindo-se mais pela aparência do objeto e o tateava, tentando interpretar de que material era feito o disco. Ia abrir a boca para questionar Leonardo, mas ao tentar limpar uma mancha que havia deixado na peça, acabou por pressionar um dispositivo e surgir mais de um círculo, fazendo com que um deles se movessem, alterando a sequência de símbolos que se formavam verticalmente.

Ambos se entreolharam, e Leonardo tomou de volta para averiguar o novo disco que tinha surgido, e com cuidado tentar descobrir que tipo de mecanismo aquele disco possuía. Raquel observava tudo, sem entender o que estava acontecendo e o que aquele objeto significava.
Sir_anton


Porto

A destilaria Azevedo-Tavares funcionava plenamente, a destilaria havia se instalado em Porto há poucas semanas mas já estava tomando espaço de seus concorrentes. Com fabricação local, o conhaque Azevedo-Tavares apresentava um preço muito mais em conta do que outras opções, sem abrir mão de grande qualidade no produto. Mas não erao conhaque a fonte dos reais lucros do proprietáro.

Anton observava os funcionários trabalhando apressados, levando e trazendo barris, enquanto uma figura rodeada por uma aura de morte aparecia acompanhando por dois capagandas.

- Anton Torre, o que acha do meu novo estabelecimento?-O homem que chegava perguntava com um tom estranhamente sério.

- Acho que sempre que eu te encontro há cheiro de bebida em volta- Anton comentou quase automaticamente - Não é como se fosse uma Caneca Quebrada portuense, mas é um bom lugar para você dirigir seus negócios, mas diga-me Ulisses: Você já possui clientela entre a respeitável população de Porto?

Ulisses gargalhou de forma desproporcional ao comentário.

- Você sempre consegue me fazer rir Anton! As pessoas daqui não são diferentes das de outras capitais: Elas tem gordura demais e ouro demais para se preocuparem em fazer qualquer coisa útil eles mesmos. Primeiro eles consumirão a bebida, depois terão sede dos meus outros produtos enquanto tentam passar o tempo de suas entediantes vidas. E quando perceberem, toda a cidade já estará inundada pela minha presença, muitos se afogarão no processo mas os que permanecerem continuarão sendo a exemplar e respeitável população de Porto. Ou continuarão fingindo.

- Sempre inspirador. Mas sobre o que você queria falar comigo?


- Meu papel é apenas o de mensageiro desta vez. Há um homem que deseja falar com você.

- E onde ele está?

- Ele está onde seus irmãos agora dormem após travarem guerras em segredo.- Ulisses percebeu que Anton não entendeu - Conhece a Fortaleza de Portelo?

- Não.

- Então ainda bem que eu te trouxe um mapa.-Ulisses entregou um mapa enrolado para Anton.

- Então..."Guerras em segredo?"

- Um conflito em 1462, ligado ao Hettinger.

A perspectiva de Anton sobre a situação mudou totalmente ao ouvir aquele nome.

- Hettinger?! Desde Dijón que eu não tenho nenhuma pista de verdade.

- Então você irá visitar o homem na fortaleza?

- Sim, eu vou.

Anton não conhecia a fortaleza, mas foi capaz de alcança-la com o mapa. Ao finalmente a avistar, ela parecia abandonada. Ninguém deveria ter estado ali desde a batalha de 1462.

Acompanhado por Sir Aidan e Clemente, Torre cavalgou até a fortaleza, quando contemplou um homem entre túmulos, ele parecia rezar ou algo parecido. Anton sinalizou para queos outros esperassem ali e desmontou indo de encontro ao homem entre os mortos.

- Meus irmãos lutaram e caíram sobre estas terras, há local mais apropriado para que eles descansem?- Anton não respondeu a pergunta, de fato pode notar que a pergunta não era para ele, o homem perguntava a si próprio. - Anton Torre certo?

- Me disseram que você está procurando por mim. Bem, aqui estou.

- Me disseram que você tem caçado um demônio.

- Ele é apenas um homem. Não importa o quão idolatrado por seus seguidores ele seja.

- Um ponto de vista prático. Talvez devêssemos entrar. Meus irmãos lutaram por todas suas vidas, não devemos perturba-los com estes assuntos agora que finalmente repousam.

O misterioso homem entrou dentro da fortaleza e Anton o seguiu através das escadas e corredores que traziam gravados em si os sinais de batalha. Até chegarem ao que teria sido um dia uma cozinha. Anton sentou na mesa conforme o indicado pelo homem enquanto este pegava duas taças e uma garrafa de vinho. A conversa seguiu enquanto o homem servia a bebida.

- Você já sabe meu nome, talvez devêsse me dizer o seu.

- Meu nome já não importa. Ele pertencia a outro homem, um homem que fazia parte de uma gloriosa ordem, um homem que honrava seus ancestrais e seus irmãos. Um homem com um propósito. Este homem não existe mais.

- Então como devo lhe chamar?

Após alguns instantes pensando o homem respondeu.

- Sepulcrum.

- Sepulcrum? Bom, Sepulcrum, lá fora você mencionou sobre o homem que caço. Sobre um demônio. Hettinger.

- Você não é o único a lutar contra este demônio. No passado, os Azure também o fizeram.

- Azure?

- A ordem de meus irmãos, eu explicarei tudo que quiser saber mais tarde. Mas como eu dizia, eles também lutaram contra seu inimigo. Bom, não contra ele pessoalmente mas eles enfrentaram Apolinário Celestino, um agente do desequilibrio. Muitos sacrificios foram feitos...Mas Apolinário caiu. Os Azure pensaram que tinham vencido...Uma mera ilusão, Apolinário caiu, mas seu mestre permanecia nas sombras.

- Hettinger.

- Sim...E quando Hettinger saiu das sombras trouxe consigo violência desmedida em velocidade desesperadora.

- Você precisa me dizer tudo o que sobre Hettinger. Sobre esse Apolinário, sobre Azure. Tudo.

- Então nós temos muito o que falar...

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Leonardodavinci


Chaves

Leonardo havia chegado em Aquae Flaviae após algumas semanas no Porto ávido pelo ar puro da ribeira do Tâmega. Carregava junto a si, a caixa que continha o disco misterioso que havia sido deixado em sua escrivaninha na estalagem condal. Protegia aquele receptáculo como se contivesse quilos de ouro puro. Ele dava um valor significativo aos mistérios.

Passou apenas brevemente no Solar dos Torre, descansando da viagem e deixando lá seus objetos pessoais. Deu atenção especial a caixa, deixando-a num vão que criara na parede para guardar alguns dos escritos de suas ideias mais controversas. Fazia pouco tempo que se mudara para lá, depois de ter sido expulso da casa de Raquel por seu primo Anton e portanto, muitos itens de valor ainda permaneciam lá. Dentre estes itens, alguns livros antigos que ele trouxera de sua última viagem a Lombardia,

Aproveitou a oportunidade para visitar sua prima e passando em sua casa, trouxe de volta ao Solar os exemplares que precisava. As horas então se seguiram bastante angustiantes, ele foi até a biblioteca que havia no Solar e se trancando nela, pediu ao seu amigo Baltazar que não o liberasse de lá antes do sol nascer.

Depositou então o disco sobre a mesa, ainda protegido pelo tecido de linho e iniciou sua pesquisa. Pilhas de livros se espalharam pelas mesas, ele buscou raízes no grego, no latim, no copta, no moçarábe, mas seu sucesso maior, foi do livro antigo que buscara na casa de Raquel, que possuía uma gama de escritos na língua longobarda e venética. Os símbolos dessas línguas antigas, possuíam equivalentes estruturais com os simbolos dispostos no círculos, o que fazia Leonardo pensar se talvez o sistema sintático e morfológico não funcionasse de forma semelhante. No entanto, seu conhecimento destas línguas mortas era quase nulo e seria necessário a ele buscar uma tradução do latim dessas línguas, para só então ser capaz de entender alguns dos símbolos. Ele não sabia de nenhum lugar, fora do Sacro Império que pudesse lhe fornecer tal material, mas tinha uma suspeita.

Quando o sol nasceu ele guardou todos os livros e novamente, colocou em segredo o disco metálico.

Mais tarde, nos corredores do Solar, ele viu Raquel, que vinha visitar o restante da família e ao notar que ela estava sozinha se aproximou. Ele percebeu certo nervosismo no olhar dela, como se ele estivesse se arriscando demais. Trocou algumas palavras com ela, mas para evitar chamar atenção, foi logo ao assunto.

- Eu preciso que você fale com sua amiga, Mantie. Acho que sei de uma forma para interpretar o disco, mas precisarei da ajuda dela para acessar alguns dos livros mais antigos do Condado. -
ele tirou o disco embrulhado de seu bolso - Você deve anotar alguns dos símbolos e pedir para ela procurar por exemplares que possuam termos equivalentes, mas que mantenha absoluto segredo do que encontrar, pois não sei ainda do que se trata.

Ele beijou o rosto dela, simulando um mero cumprimento, enquanto entregava o disco na mão dela e acrescentou num sussurro:

- Eu confio em você...

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Raquel_



Chaves


Quando Leonardo entregou o disco envolto no invólucro de linho, sentiu novamente a excitação da curiosidade pelo artefato, mas decidiu mentalmente que dessa vez teria mais cuidado ao manusear, já que possui um dispositivo que aparentemente seu primo não deve ter descoberto a respeito. Num gesto rápido, Raquel alargou o decote e ajustou o disco para que ficasse firme entre a pele e o corset por baixo do vestido. O disco incomodava um pouco, percebendo que a estrutura dos dois discos não tinha se alterado, mas não tinha tempo para se preocupar com aquilo.

Ela despediu-se de Leonardo com um olhar afetuoso, se afastando do corredor em direção à cozinha, para indagar a um dos criados sobre o paradeiro de Charlie, no que avisaram que deveria estar na oficina a consertar algumas ferramentas. Raquel foi para a área externa do Solar e caminhou até a oficina, encontrando Charlie sozinho.

- Bonjour, Charlie.

- Bonjour, mademoiselle.
- Você sabe que não sou de pedir coisas para você, mas no momento necessito.

Charlie interrompeu o que estava fazendo e olhou para Raquel, aguardando que ela continuasse.

- Preciso que parta hoje mesmo ao Porto, e entregue pessoalmente uma carta confidencial. E que retorne com o que for entregue em suas mãos.


Charlie começou a limpar as mãos e a desatar o avental, enquanto falava.

- Pois não, mademoiselle. Providenciarei minha partida ainda hoje.
- Peço que vá pronto até minha casa para buscar a correspondência, o portão estará aberto para sua entrada. Ah, e muito obrigada. Por sua lealdade, mais uma vez.

Ambos se despedem e cada um segue o seu caminho. Raquel parte em direção a sua casa no cavalo que tinha usado para ir até o Solar, garantindo assim um pouco mais de rapidez. Ao chegar, amarrou o cavalo na parte traseira da casa e entrou pelos fundos, direto para o seu quarto. Retirou do decote o disco, e tirou do embrulho de linho, pousando com cuidado em sua escrivaninha. Com o tato percebeu que havia um bilhete dentro do invólucro, e retirou para ler.

Leonardo descreveu que as exceções quanto às línguas a serem procuradas era o grego, o latim, o copta e o moçárabe, para que Mantie se concentrasse em buscar algum livro que tivesse tradução para o latim das línguas longobarda e venética. Sentou-se defronte à escrivaninha e separou o papel. Observou atentamente os símbolos organizados, e viu que não era difícil reproduzi-los em uma carta, escolheu pelos símbolos mais externos da circunferência, em sequência. Por um momento, aqueles símbolos fizeram Raquel recordar de um velho pergaminho de sua mãe falecida, onde havia escrito sinais rúnicos já esquecidos pelo tempo antropofágico.

Retornou ao seu principal objetivo, pegando a pena e mergulhando apenas um terço dela para não absorver excessos, dando início à carta.


Quote:

Estimada, e mui querida amiga Mantie,

Envio ao seu encontro uma das pessoas que mais confio, com uma missão nas mãos. Tal missão não há continuidade sem o seu auxílio, pois há algo em minha posse que requer esclarecimentos através do acesso a talvez uma das únicas (se não, a única) bibliotecas que honram o privilégio de possuir algum exemplar para tal árdua tarefa.
Explico melhor: há necessidade de consultarmos algum livro que pelo menos tenha a tradução para latim da língua longobarda e venética, línguas mui antigas, que talvez subsidie a pesquisa que demos início. Charlie é de absoluta confiança, que trará o livro até Chaves, onde faremos a consulta e tão breve retornará para suas mãos, muito bem salvaguardado.
Na folha avulsa escrevi alguns dos símbolos para facilitar sua consulta, caso possua algum livro a mais que possa ajudar.
Espero não incomodar com este pedido, e desejo votos de dias tranquilos e belos na capital.
Já com saudades,
Raquel Torre


Raquel preparou a carta, e selou com o lacre de confidencialidade. Teve tempo de guardar novamente o disco em sua embalagem, e procurou um local discreto em seu quarto para escondê-lo enquanto não devolvesse ao seu primo. Abriu o baú de costura e guardou enrolado em um tecido, onde não fazia muito volume. Desceu a tempo de olhar pela janela e avistar Charlie entrando pelo portão, com um coche à sua espera na entrada da casa. Impaciente, Raquel abriu a porta e caminhou pela entrada até aproximar-se de Charlie, no que estendeu a carta e falou.

- Não volte sem os livros que Mantie lhe entregar, mas tente voltar o mais breve possível, por favor.
- Assim será feito, mademoiselle, agora me despeço.
- Bon voyage...






--Raziel_merari


Portelo

Então nós temos muito o que falar...
- Sepulcrum havia terminado de servir as taças e entregava uma para Anton. - Sobre os Azure, sua história é longa e cheia de mistérios e muito dela não lhe interessará pois em nada diz respeito ao que você busca. O que precisa saber é que como eu, Apolinário certa vez foi um Azure chamado Estevão Lavre, mas após a morte do pai ele se perdeu no desespero e desejou vingança contra aqueles que o criaram, pois seu pai havia morto ao serviço dos Azure. Ele repudiou o próprio nome e fugiu para o leste buscando como poderia causar a queda da Ordem e principalmente de seu Prior a quem ele considerava como o responsável pela morte do pai. No Passo de São Gotardo quase se afogou, e terminou sendo salvo pelos homens daquele que se tornaria seu mentor e aliado na destruição dos Azure: Hettinger.

Ele fez uma pausa e continuou. - Hettinger o seduziu e com ele traçou o plano que causaria a queda de seu maior inimigo, Apolinário foi derrotado no final, mas a Ordem também foi destruída. Restam muito poucos Azure no mundo capazes de enfrentar a Hettinger, e a maioria deles está defendendo e recuperando o que restou da Ordem, como fazia aquele monastério em Dijon, incapazes de atacar a Hettinger, acuados e cercados. Mas ainda resta aqui em Portugal um pequeno bastião que afronta os seus planos, uma última esperança contra Hettinger.

Ele tomou um gole de sua taça esperando que Anton fizesse o mesmo. Mas antes que Anton pudesse tocar a taça com os lábios uma voz veio da figura que agora se revelava na janela.

- Eu não tomaria isso se fosse você... a menos que queira descansar lá fora junto a tantos outros...





Porto - Alguns dias antes, ao anoitecer

- Quem vem lá? interpelou o guarda que fazia a proteção da residência oficial da Condessa do Porto.

- Venho em nome de Sua Majestade o Rei.
- respondeu o recém chegado trajado de negro, a alforja pendendo do ombro, aparentava ter feito uma longa viagem para chegar ali. - Tenho uma mensagem para a Condessa do Porto. - e retirando uma pequena carta de um bolso, ele a entregou ao guarda. - Minhas credênciais. Peço-te que as mostre à Condessa.

- Espere aqui.
- o guarda disse depois de indicar ao companheiro que não deixasse o homem passar até que ele retornasse.

Poucos minutos se passaram até que o guarda retornasse.- Me perdoe meu senhor. - ele disse ao homem. - Sua Graça o receberá agora.

- Obrigado.
- respondeu o homem, cruzando os portões. Ele foi recebido na porta da residência oficial por um criado quem o guiou pelos corredores até uma sala muito bem mobiliada. Alí a Condessa o esperava com a carta aberta em suas mãos.

Fazendo uma vênia o homem entrou. - Boa noite minha senhora. - ele disse. - Traigo um pedido de vosso irmão. - ele continuou produzindo um embrulho retangular de dentro da alforja - Ele pede que cuide disso até que venham a tí para buscando o que ele contém. Meu senhor disse que a senhora saberia a quem e quando revelar isto. - o homem concluiu entregando o embrulho contendo um livro sem palavras em sua capa, apenas um símbolo que Vivian reconheceria de muitos anos atrás, quando os Viana ainda viviam em Aveiro.

- Que a Luz dos Nove ilumine o vosso caminho minha senhora - disse o homem ao se despedir. Ele teria que apressar-se pois notícias preocupantes vinham do norte. Ele havia retornado à Portugal depois de tantos anos...
Mantie


Porto

Na ala dos criados da residência das Vianas ao lado da cozinha, havia uma pequena sala com alguns móveis, onde Mantie auxiliava os criados e seus parentes a aprenderem a ler e a escrever. Era uma tarefa que requeria dedicação e atenção, onde Mantie dividia em grupos os familiares para facilitar o aprendizado de cada um. Alguns progrediam, e outros tinham dificuldades naturais, mas ela sempre dispunha de paciência e atenção para cada um deles.
E foi em um momento que ela estava atarefada em ensinar quando Bunifácio irrompeu na porta, a chamar por ela. Mantie foi verificar sobre o que se tratava.
- Senhorita, há uma pessoa na entrada principal querendo vê-la, anunciou que veio em nome de Raquel Torre.
- Peça para aguardar, que o verei em instantes.

Mantie continuou seu labor voluntário e dispensou todos ao final. Uma hora e meia depois foi ao encontro da pessoa que a aguardava, no salão principal. Enquanto caminhava em sua direção avistou um senhor sentado, com uma expressão paciente, reconhecendo ser o braço direito do seu namorado, Charlie Haghfish. O coração de Mantie acelerou por um momento, pensando se algo de grave teria acontecido com Anton, e apressou para alcançá-lo, num gesto impetuoso.
- Charlie, sê bem-vindo, que bons ventos o trazem? Notícias de Raquel ou Anton? - Mantie falava com uma aparente calma.
- Dama Mantie, é com alegria que a reencontro e saber que está ótima.
- Charlie mantém o tom de voz inalterável - Dama Raquel pediu que eu entregasse algo pessoalmente em suas mãos - Charlie retira de seu bolso da jaqueta a correspondência selada, e entrega nas mãos de Mantie.
Mantie observa o selo de confidencialidade na carta, e perante Charlie rompe o selo para ler seu conteúdo, separando as duas folhas para ler. Após um período de silêncio olhando os símbolos, ela o responde gentilmente:
- Quanto ao que está escrito, peço que me encontre novamente em três dias. Está bem instalado?
- Sim, Dama Mantie, não há o que se preocupar, em três dias retornarei aqui. Não quero mais incomodá-la, vou me retirar
- Ele a cumprimenta com um gesto e os dois se despedem amigavelmente.
Mantie realmente não sabia o que pensar. Sabia que a irmã do seu namorado não era muito adepta dos afazeres femininos triviais, era uma moça rodeada de parentes na carreira militar, e uma das poucas mulheres da família, mas achou que aquele pedido por carta extrapolava todas as exoticidades inerentes à Raquel. Não vislumbrava uma ideia sequer sobre a missão tão misteriosa que necessitava do auxílio de línguas antigas que nem conhecia, no máximo se permitia pensar que poderia ser algumas receitas de refeições tão magníficas e que talvez abriria um comércio em Chaves. Mas como ela queria seu bem, Mantie resolveu em seu íntimo que ajudaria, e que no dia seguinte começaria sua busca.
Seu compromisso teve continuidade no dia seguinte, ao ingressar na biblioteca da Universidade de Porto, já que obtinha facilidade em ter acesso ao acervo. Percorreu os corredores até chegar no acesso à linguistísca, dando início à pesquisa. Conforme prosseguia a busca, via que a possibilidade de pesquisa abrangia mais assuntos, começando a procurar entre os dialetos do Sacro Império Romano, pois encontrara referências da língua Longobarda que se mesclavam em regiões semelhantes a do Sacro Impéro. Mantie se recordou do que sua professora falou a respeito, que havia inúmeros principados que às vezes possuíam tantas línguas diferentes que se perdiam. Mesmo sem poder solicitar a ajuda de alguma pessoa, Mantie persistiu na pesquisa para saber mais sobre o pedido da carta, passando longas horas na Universidade. Após um período exaustivo de tanta leitura, retornou para a residência das Vianas sem ter alcançado o objetivo.
Mesmo um pouco cansada, decidiu que continuaria a procurar na biblioteca de sua casa. Sabia que teria que esperar acordada até longas horas da noite, pois sua mãe tinha o hábito de se trancar na biblioteca e não ser interrompida, inclusive ela mesma já tinha sido proibida de entrar naquele cômodo. Aproveitou o intervalo entre uma pesquisa e outra para descansar e realizar seus afazeres diários sem preocupação.
Já no limiar da escuridão da madrugada, Mantie carregava a carta em uma das mãos e junto à outra mão um castiçal até a biblioteca entre a penumbra total dos corredores. A porta se encontrava entreaberta, e entrou cautelosamente para continuar a pesquisa. Dentre um acervo adquirido por tantas gerações, lá estava a donzela dos longos cabelos loiros a procurar algo que já começava a considerar que era algo bem difícil. Os dedos passeavam por exemplares que poderiam muito bem já ter sido devorados pela poeira, até encontrar alguns livros de traduções. A excitação de Mantie foi substituída rapidamente por um sentimento de decepção, por não encontrar nada que referenciasse sobre as tais línguas antigas. Pensava em procurar alguém que conhecesse as línguas tão misteriosas para aprender desaforos e dizer para Raquel, mas logo se deu conta no que pensava. Então prosseguiu com a pesquisa, recorrendo à ala secreta da biblioteca, onde estavam reservados os livros mais raros e valiosos, com cuidado para que nada ficasse fora do lugar. Um barulho da porta se abrindo ecoou no silêncio do cômodo, e uma sombra falou seu nome enquanto se aproximava dela, com seu reflexo em evidência pela luz do castiçal.
- Mantie! O que está fazendo aqui a essa hora?
Ela fica tão nervosa que não sabe o que dizer, e deixa a carta cair no chão, revelando através da fraca iluminação a existência do segredo da amiga.

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Sir_anton


- Eu não tomaria isso se fosse você... a menos que queira descansar lá fora junto a tantos outros...


A frase vindo da janela foi o suficiente para deter Anton que largou a taça de volta na mesa quase de imediato.

- Você poderia entrar aqui e explicar?- Anton falou em um tom que misturava o cordial e o intimidador a figura na janela antes de voltar sua atenção a Sepulcrum.- Talvez você possa me tirar uma dúvida.

Anton empurrou sua taça para perto de Sepulcrum ao mesmo tempo que sacava sua adaga.

- Você vai beber até a última gota não vai?

- Torre não há nada...-Sepulcrum foi interrompido antes que pudesse terminar a frase.

Anton levantou a adaga ameaçadoramente:

- Então não vai ser um problema beber não é?

Logo Anton virou-se para janela e gritou alto o bastante para que se ouvisse do outro lado:

- Clemente! Aidan! Entrem aqui seus idiotas!

Assim que os dois entraram na sala Torre sinalizou para eles vigiarem o novo convidado enquanto Anton encarava Sepulcrum até este decidir beber todo o conteúdo da taça.

- Assim que eu gosto. Agora... alguém poderia me explicar o que diabos foi isto?

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Vivian


Porto

A brisa primaveril sacudia as copas das árvores de um lado ao outro, como se as folhagens dançassem em um ritmo cadenciado que contrastava com o marulhar das águas do Douro que batiam sorrateiras na costa. Da janela de sua casa à ribeira do rio, Vivian olhava pensativa para o horizonte diante de si, distraída com uma andorinha que voava em bando. Em suas mãos, segurava um livro muito antigo que acabara de receber de Raziel. Era sabido que ela tinha paixão por livros e tal feição a fez acumular diversos exemplares diferentes sobre variados temas ao longo dos anos, formando sua biblioteca. No entanto, aquele não era um livro qualquer; era um livro que devia ser muito bem guardado por ser um item raro dotado de conhecimentos que iam além de sua compreensão.

O escritório era um lugar amplo com apenas uma fenestra abobadada que continha um florão de fecho em vitral que indicava a brisura heráldica de Vivian. Ante a janela, via-se uma longa escrivaninha de madeira com muitas gavetas, onde guardava documentos. Ao redor do cômodo, havia estantes e mais estantes altas e repletas de livros. Mas não era exatamente ali que ela colocaria o exemplar que trazia em suas mãos. O que ninguém sabia, exceto ela e quiçá seu irmão Yochanan, era que uma das estantes continha uma espécie de passagem secreta a uma sala muito pequena, onde os livros secretos eram depositados.

Assim, trancada na calmaria de seu escritório, Vivian aproximou-se de uma das estantes na ala oeste, de onde retirou um livro chamado Codex Reina. Tal exemplar não era o verdadeiro manuscrito musical compilado anos atrás na região de Pádua e Veneza. Contudo, era uma cópia fidedigna que ela havia adquirido de um mercador de produtos raros. Na fenda deixada pela retirada do livro, um pequeno botão podia ser visto. Tal dispositivo destrancava a estante abrindo uma porta de acesso à tal saleta. Se o livro foi entregue por Raziel, de certeza que não poderia ficar às vistas de qualquer pessoa e ali o colocou.

Semanas se passaram num piscar de olhos... As atividades do Conselho e as aulas na Universidade continuavam a consumir-lhe quase todo o tempo, tanto que passou a ler antes de dormir deitada em sua cama ao invés do aconchego habitual de seu escritório. Naquele dia, ela precisava estudar mais um pouco de grego, só que como não tinha trazido o livro ao seu leito, teve que ir buscá-lo em uma das estantes. Com a casa em pleno silêncio, a penumbra da noite se esvaía por onde passava por causa das velas. Tal foi a sua surpresa quando alcançou a biblioteca e viu o rosto de sua filha reluzido pelo castiçal.

- Mantie! O que está fazendo aqui a essa hora? - disse em tom altivo.

Nisto, uma carta cai no chão e, sem hesitar, Vivian abaixou-se para pegá-la. Ao sentir o pergaminho entre os dedos percebeu que outro estava por detrás, contendo alguns desenhos que não lhe eram estranhos. Sem ter lido o conteúdo da carta, Vivian questionou mostrando-lhe o pergaminho:

- O que isso significa, Mantie? O que quer com isso?

O nervosismo era algo caricato de se ver, principalmente quando alguém é pego no flagra fazendo algo que sabe que não deveria. Como as copas das árvores que sacudiam de um lado ao outro, Vivian podia ver as mãos de sua filha a tremer com aquela excitação psíquica. Aos poucos, a menina começava a falar, explicando o que a havia trazido ali.

- E precisava vir aqui às escondidas procurar um livro para tradução? Você sabe que não gosto que venham ao meu escritório sem permissão... E você já deveria estar dormindo há muito tempo!

Ela balançava a cabeça em tom de negação enquanto repreendia a filha. Vivian entendia a curiosidade de Mantie; era uma característica herdada dela mesma e ela própria havia ficado curiosa com o fato de alguém precisar de uma tradução de uma língua antiga. Entretanto, como se tratava de uma tarefa de pesquisa de Raquel, a loira havia decidido emprestar o livro que possuía.

- Longobardo para latim... Aqui está... - disse retirando o objeto da prateleira - Peço que avise à sua amiga para tomar extremo cuidado ao manusear o livro, pois você sabe que tenho enorme apreço por toda a minha biblioteca. Vá, agora durma. Seu castigo você saberá amanhã.

E saiu do local com a filha.

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♛ Royal Princess of Portugal - Countess of Porto - Baroness of Póvoa de Varzim ♛
Mantie


Porto

Mantie saiu da biblioteca sem pronunciar uma palavra. Caminhou pelo corredores com os calcanhares marcando os passos em sonoras batidas, indicando sinal de descontentamento. Era uma jovem independente, e que ganhou um castigo de presente só por usar a biblioteca. Entrou no seu quarto, deixando o livro sob a penteadeira, e manteve o castiçal próximo à cama. Cansada e irritada, ficou imaginando mil maneiras de como seria o castigo, pois também sentia medo de perder sua liberdade. No seu âmago, amava a mãe mais que qualquer pessoa, era o melhor reflexo a ser avistado à beira de um lago ou em um reluzente e caríssimo espelho, objeto tão cobiçado por poderosos e fabricados por tão poucos artesãos. Ela deixa-se levar pelos devaneios enquanto está deitada, em ser igual à mãe um dia, e perpetuar seu amor incondicional por atos que ela possa se sentir orgulho. Mantie assoprou a vela, e a chama apagou.

No terceiro dia conforme prometido ao final da tarde, Charlie Hagfish retornou à residência das Vianas, e Mantie fora chamada novamente para comparecer no hall de entrada. Dessa vez, ela levava um embrulho de tecido amarrado com um pedaço de corda fina e um envelope nas mãos. Cumprimentou Charlie, e iniciou o diálogo:
- Charlie, aqui está o pedido da Raquel, e peço que entregue esta carta para ela.
- Sem dúvidas que será feito, Dama Mantie. Algo mais a ser recomendado?
- Acredito que não Charlie, a carta já expressa o necessário, mas que o livro retorne assim que possível.
- Que assim seja.
- Bom retorno, Charlie.
- Até a próxima, mademoiselle.
Charlie se dirigiu à saída, e Mantie o seguiu, acenando quando o coche se distanciou. Quisera poder levar pessoalmente, como pretexto de retornar a ver Anton, mas achava que ele estava demasiado atarefado com suas responsabilidades em Chaves.

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--Raziel_merari


Portelo

Sepulcrum praguejava em seu interior. Maldito aquele que interrompia seus planos, mas entre a adaga e o cálice, ele sempre escolheria o cálice.

A bebida começou a fazer efeito poucos minutos depois, quando o maldito já se aproximava a eles. -Então és tú Raziel, o maldito... - primeiro os dedos deixavam entumeciam, e a língua se detia dentro da boca, e nenhuma palavra surgia dali mais. Sua consciencia se esvaía, e o último que ele sentiu foi o corpo amolecer e cair em direção ao piso, mas não chegou a sentir o golpe contra as pedras que cobriam o chão da cozinha.

Raziel trajava o negro da extinta ordem, a espada curta embainhada no cinto, o colete justo ao corpo, nenhuma marca distinguível, apenas a escuridão do tecido, assim eram as roupas dele.

- Não se preocupe senhor Torre. Não havia nenhum veneno em seu vinho, ao menos não em uma dose letal, não é assim como esse sujeito, apesar de seu nome, trabalha. - Raziel se aproximou sem parecer dar atenção aos homens do Torre. Ele tomou a taça e lançou-a ao interior da lareira apagada. - Apenas um pouco de suco de dormideira. - Ele agora se aproximava de Sepulcrum e deu uma risada cortada quando viu o estado do homem. E sentando onde Sepulcrum havia estado sentado momento antes, Raziel finalmente coloca a questão que desejava saber. - Diz-me senhor Torre, qual é o seu interesse em Hettinger? Se preferir pode dispensar seus homens, se eu lhe quisesse mal, apenas teria que deixar que este daqui lhe desse de beber. - ele concluiu indicando ao corpo praticamente inerte de Sepulcrum.
Raquel_



Chaves

Raquel regava tranquilamente seu jardim de lavanda da entrada principal, quando um coche parou em frente à sua casa. Era o mesmo coche que Hagfish usara para se deslocar ao Porto, então deduzira que ele estava de volta.
O senhor saiu do coche com um embrulho nas mãos, abriu o portão e foi em direção à Raquel, já de pé aguardando. Ambos se cumprimentaram.

- Trouxe o que foi pedido, mademoiselle. - Hagfish estende as mãos com o embrulho e entrega a Raquel - Há também uma carta de Dama Mantie a ser entregue - tirou do bolso de sua jaqueta o envelope e repetiu o gesto.

- Fico muito grata por sua lealdade. Se houver necessidade dos seus préstimos novamente, irei ao seu encontro.

- Pois não, assim me despeço. Estarei à disposição.

Raquel mal se conteve. Largou o que fazia, entrou em casa fechando a porta e levou para o seu quarto o que acabara de receber em mãos. Abiu a carta primeiramente e leu seu conteúdo.

Quote:
Querida amiga Raquel,

Espero que esta missiva te encontre na paz!

Mesmo sem entender seu pedido, corri para atendê-lo. Segue o livro que peguei com minha mãe. Só te peço a máxima urgência e um cuidado extremo com ele.
Saudades suas e do Anton, espero ve-los o mais breve possivel.

Da amiga de sempre

Mantie



Houve uma breve reflexão sobre a resposta contida na carta, então a Condessa soube do ocorrido.
Foi até o seu baú de costura e retirou o disco, colocando-o novamente na escrivaninha. Retirou do invólucro, e retirou o livro do embrulho de tecido, desamarrando a corda. Era realmente o que Leonardo havia pedido, a tradução do Longobardo para o Latim. Abriu o livro, folheando com cuidado as páginas antigas, fazendo uma breve leitura do que havia em seu conteúdo. Olhou de volta para o disco, e prestou atenção no alto relevo que os dois discos possuíam, o primeiro da última extremidade e o segundo mais interno, formando a segunda linha de símbolos. Deslizou o polegar nas duas linhas de símbolos, sentindo o alto relevo e completando 360 graus com o polegar por cima dos discos, ouviu-se um estalo estridente, surgindo um novo disco com uma nova disposição de símbolos, seguindo um caminho para o centro do círculo.
Raquel ficou nervosa, pensando que poderia ter manuseado algo errado, esquecendo o livro ao seu lado. Precisou se conter para não sair em disparada até o Solar, havia decidido que iria no dia seguinte para não haver suspeitas. Deixou os objetos na escrivaninha sem mais tocá-los, e tratou de terminar seus afazeres para dormir em seguida.

Ao raiar do sol, Raquel já se encontrava de pé na entrada do Solar, com uma bolsa de tecido a tiracolo. Havia movimentação na cozinha para o desjejum, mas optou em subir as escadas e caminhar em silêncio até o quarto de Leonardo. Bateu na porta, e com a demora bateu novamente. Ouviu os passos dele se aproximar, abrindo a porta. Raquel olhou para o lado, e vendo que não tinha ninguém, desviou de Leonardo e entrou no quarto.

- Raquel, não acha arriscado demais entrar aqui?

- Que seja, pois só aqui posso te entregar o que foi pedido.

- Trouxeste?

- Sim, há um porém...

Leonardo aparentou seriedade em sua expressão.

- O disco, Leo. Surgiu um novo.

- Como assim?

Raquel retirou da bolsa o disco, e ao desenrolar do embrulho, mostrou ao primo.

- Passei o polegar pelo alto-relevo das duas linhas de códigos, e ao dar a volta completa, surgiu esse terceiro que você está vendo.

- Deixe-me olhar isto. - Leonardo pega o disco em suas mãos.

- Há um outro porém...

Leonardo olha para Raquel, dessa vez com feição de incredulidade.

- A Condessa. Foi quem entregou o livro para Mantie, então ela sabe que estamos interessados no assunto.

































Sir_anton


- Diz-me senhor Torre, qual é o seu interesse em Hettinger? Se preferir pode dispensar seus homens, se eu lhe quisesse mal, apenas teria que deixar que este daqui lhe desse de beber.

Talvez ela não existisse, mas Anton sentiu certa arrogância no tom de Raziel e Anton havia perdido a paciência.

- Foi de Raziel que ele te chamou, certo? Então, veja Raziel, eu vim até aqui porque disseram que queriam falar comigo. Quando chego aqui, Sepulcrum é incapaz de dar respostas diretas, você aparece do nada e descubro que planejavam me sabotar. -Anton levantou e deu alguns passos se posicionando atrás da cadeira de Raziel- Agora sou eu quem vai fazer as perguntas: Quem é você? O que quer comigo? E o que sabe sobre Hettinger?-Anton observou seu reflexo na reluzente lâmina da adaga enquanto terminava - E eu juro, que se me responder com algum enigma, metáfora ou algo inconclusivo eu vou arrancar suas tripas.

Anton olhou rápidamente para o inconsciente Sepulcrum
- Clemente! Tire-o daqui, está me incomodando. Veja se acha alguma coisa para amarrá-lo.

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--Raziel_merari


- Está correto senhor Torre. - Raziel não se imutou pela impaciencia de Anton. - Meu nome é Raziel Merari, sou um grigori da Ordem de Azure. O senhor tem sorte de que meu senhor tenha tomado interesse em suas ações. Ou talvez seja um grande azar. - Ele deu de ombros. - De todos modos, o feito feito está e o senhor e os seus se meteram em um conflito que já dura muitos anos. Ainda que eu esperaria um pouco mais de cautela da vossa parte depois do que aconteceu na Vila Torre. Se não fosse por mim, seria o senhor a estar no lugar dele. - Raziel fez uma pausa como se imaginando a cena. - Que tristeza seria. Ainda que devo confessar que minha intervenção foi mais em proveito próprio que pelo seu bem, pois creio que a intenção dele era colocar-vós contra nós e assim acabar com aqueles que poderiam detê-lo.

-Quanto ao que você deseja saber - Raziel retomou a palavra. - Hettinger e os seus tornaram-se nossos inimigos jurados há muitos anos, quando o primeiro a utilizar este nome roubou uma antiga relíquia e desencadeou uma série de eventos e conflitos sombrios que ao longo dos anos têm debilitado em grande medida as nossas forças e nossa capacidade de fazer-lhe frente. Apesar disso, continuamos a resistir e a lutar sempre que possível. Não o subestime,
senhor Torre. Pode ser que da próxima vez, não haja um de nós a deter a vossa mão de levar um cálice envenenado aos lábios.


Em relação ao que quero com você
- Raziel se levantou devagar. - Para ser-lhe honesto, não é exatamente com você que queremos algo, ao menos não ainda, mas também não queremos nos indispor com vocês. Podemos dizer que temos interesses em comum no momento e que talvez, com um pouco de sorte, vocês sejam a peça que estava faltando para encerrar um conflito que já dura mais de trezentos anos.


O grigori se encaminhava para a saída percebendo que Anton o seguia. - Isso é tudo o que posso lhe dizer agora, senhor Torre. Mas tenho algumas perguntas para o nosso amigo ali. - Já do lado de fora, Raziel apontava para o corpo inerte de Sepulcrum amarrado junto a um pedaço de parede junto a Clemente e Aidan que tinham suas armas prontas e olhavam fixamente à entrada do complexo onde um grupo de oito cavaleiros, todos vestidos como Raziel, e nove cavalos, esperavam. - Nós o levaremos agora. - Ele concluiu segurando a Sepulcrum pelo colarinho e arrastando-o pelo caminho de terra até os cavaleiros negros.

- Estaremos em contato, senhor Torre.
- Raziel gritou de cima do cavalo quando o grupo já partia. - Com todos vocês.
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