[RP] Câmara Real - Aposentos do Rei Yochanan e da Rainha Ava

Após dar a notícia, Beatrix parabenizou Ava.

- Meus parabéns, rainha. Cuide-se bem.

Em seguida ela concordou com o pedido feito quanto ao sigilo e retirou-se.

Beatrix estava em uma sala do castelo onde, diante de uma mesa ela fazia anotações. Precisava preparar alguns relatórios para quando do retorno do rei. Aqueles dias eram bastante atarefados e ela precisava se organizar para dar conta de tudo. Apesar de costumar fazer aquele trabalho em sua própria casa, ela sempre ia ao castelo para lidar com os documentos que necessitava e despachar com os auxiliares do rei, em sua ausência.

Não via a hora que Sua Majestade Real finalmente retornasse de Lamego.

Ela já estava quase terminando o seu trabalho, quando um dos guardas do castelo adentrou a sala. Após fazer uma reverência à senescal, o jovem comunicou à Beatrix que a rainha Ava desejava vê-la o quanto antes.

- Já estava quase acabando. Mas se é urgente, vou guardar esses papeis. Termino isso em casa ou a caminho de um dos meus outros destinos, essa tarde. Seguirei com você, guarda. Só um instante.

Ela disse, e pediu que ele esperasse. Assim que ela terminou, guardou tudo em uma bolsa de couro para papéis, e seguiu com o guarda para os aposentos da Rainha. Após deixar ali a Senescal, vendo que sua presença não era mais necessária, o guarda se retirou, deixando as mulheres sozinhas.

Beatrix dirigiu-se à rainha e cumprimentou também a Letícia. Fazia tempo que Beatrix não conversava com Letícia, desde que as atividades da ordem que envolviam as duas entraram em um hiato. Ao menos aparentemente, uma vez que a presença de Letícia ali talvez indicasse o contrário. No máximo havia visto Letícia apenas de relance, em alguns eventos e mesmo no castelo. Mas se tratavam como quase estranhas. A Senescal também sabia que Letícia e William tiveram um rápido envolvimento amoroso. Não sabia se o caso teria realmente acabado. Mas obviamente ela não fora chamada para dar notícias do irmão. Havia preocupação no ar. Ela só esperava que não fosse nenhuma notícia ruim envolvendo o Rei Yochanan.

Beatrix fez uma vênia à rainha.

- Majestade, aqui estou. Em que posso ser útil?

Em seguida cumprimentou Letícia.

- É bom revê-la Letícia e saber que está bem depois de tanto tempo.

Letícia concordou com um aceno de cabeça e auxiliou Ava para retornarem o quanto antes. Não demorou para que ambas retornassem aos aposentos da rainha, onde ela poderia ser examinada por um médico.

- Se quiser discrição, posso chamar a Senescal Real, ela é versada em medicina e sei que está aqui hoje no castelo. O que eu sei de anatomia serve mais para curar ferimentos leves e causar ferimentos graves.

Letícia virou-se e deu com Ava deitada a descansar, não viu se ela caíra ou se simplesmente sentara e depois deitara ali.

- Pelo visto, é mais grave do que eu imaginava. Mas isso não está parecendo só falta de treino. Tem comido direito.

Letícia encarou Ava, abaixando-se perto dela. Inicialmente sorria, mas depois ficou preocupada.

- Perto do sol você parece ainda mais pálida. Já está me preocupando.

Várias ideias passaram pela cabeça de Letícia, que afinal tinha bastante experiência.

Letícia continuou seguindo para o destino indicado, sem diminuir o passo, pois se ela queria por sua aprendiz em forma, não devia abrandar. Era bom que ela percebesse o quanto precisasse de treino. Em outros tempos ela até aceleraria, mas não desejava ser ainda mais dura.

- Veremos, veremos...Sigamos, sigamos. Lá você recupera o fôlego enquanto arrumo as facas.

Ao chegarem ao local onde os alvos se encontravam, ela dispôs várias facas de arremesso em uma mesa, para que Ava as utilizasse.

- Ora, não é que está precisando MESMO de treino. Não é porque se tornou rainha que vai aí ficar toda molenga.

Ela sorriu e deu uma beliscada de leve na cintura de Ava.

- Ainda bem que cheguei a tempo para te tirar desse estado. Aqui mesmo no castelo, tem uma masmorra mais isolada. Só pedir para não deixarem nenhum paspalho entrar. Teremos privacidade para o treino. Apesar de que como você parece fora de forma, um pouco de movimento ao ar livre faria bem antes. Que tal?

- Vamos lá, rainha, antes que você mofe. Estou te achando pálida.

Ela comentou a medida que caminhavam pelos corredores.

Como Ava parecia realmente fora de forma, Letícia pensou em algo leve, como atirar punhais em um alvo de madeira. Ao menos aquele exercício tão fácil poderia animar Ava e nas próximas visitas poderiam fazer algo mais difícil.

- Daremos uma caminhada para tirar esse seu torpor, depois vamos aos alvos na ala de treinos. Quero ver como está a sua pontaria depois de tanto tempo.

Letícia adentrou os aposentos reais, caminhando despreocupadamente.

Ela apenas sorriu discretamente para os guardas e cruzou o corredor que levava aos aposentos da rainha consorte. Eles já haviam se acostumado com a presença de Letícia, e sabiam dessa vez que ela teria livre acesso, por isso sequer a importunaram. Era melhor não criar problemas com aquela estranha mulher.

Assim que avistou Ava, ela se anunciou.

- Saudades?

Ela disse levantando a sobrancelha e sorriu.

- Quais as novidades? Andei meio ocupada ultimamente, mas vim assim que soube que precisava de mim.

Os dias se passaram em uma falsa tranquilidade, como um profundo rio cuja superfície não reflete a força de sua correnteza.

Havia chegado o fatídico dia da despedida, que Yochanan desejava que fosse breve, mas o mundo tinha seu próprio jeito de fazer com que as coisas que se esperavam não fossem precisamente o que se consegue. O Viana sabia bem disso, e tinha a certeza que as batalhas que enfrentaria não seriam fáceis e provavelmente durariam muito além do inverno.

Naquela dia o monarca partiria para o fronte nas aforas da cidade de Lamego.

-Minha querida. Que grande tristeza a minha de ter que separarme de ti tão pronto. - Ele disse abraçando-a por trás e depositando um suave beijo em sua bochecha.

Alguns momentos depois ele partiria para Lamego, sem ao menos saber se voltaria.

Muitas coisas haviam ocorrido nos últimos dias, e pareceria que muitos anos haviam se passado ainda que não fossem mais que algumas poucas semanas desde que Yochanan e Ava haviam contraído suas núpcias.

Naquele dia havia chegado para encontrar seus aposentos habilmente decorados e preparados para uma velada especial digna da posição que agora ocupavam. Mas infelizmente a lua de mel durou pouco pois as obrigações da Coroa são muitas e a vida da Corte agitada.

Ainda assim, Yochanan buscava no pouco tempo que tinha, passar-lo o mais que pudesse junto de sua amada Ava.

Em alguns dias deveria partir para Lamego, a situação havia se tornado insustentável e medidas rígidas teriam que ser tomadas. Começavam tempos difíceis para o monarca Viana, a guerra pareceria ser um fardo que acompanhava aos Viana no trono do Reino. Em tempos de sua irmã Marih, ela trouxe a paz ao findar uma triste guerra civil. Agora em seu reinado, Yochanan se via forçado a começar uma para garantir uma paz futura, por mais débil que pudesse resultar.

Com Ava ao seu lado, ele sabia que quaisquer atribulações seriam vencidas e que a paz seria alcançada pelo povo português ainda que não fosse em seu reinado. Havia muito o que fazer pelo futuro de Portugal, pela sua visão de um Portugal mais unido e fortalecido. Ele esperava que em seu tempo conseguisse ao menos lançar os alicerces deste novo Portugal, o demais, o tempo e a história se encarregariam.

Naquele final de dia ele estava inclinado sobre alguns papeis dispersos em sua escrivaninha. Pela janela, a neve invernal caia branca sobre o negrume da noite. Em seu castiçal um toco de vela queimava alaranjada.

Yochanan levantou-se massageando os olhos cansados tanto pelo esforço como pela idade. Apagou o lume de um único sopro, e apenas as luzes que ainda brilhavam no exterior lançavam uma leve claridade pelas janelas, apenas o suficiente para que o rei encontrasse sua cama e sua esposa. Abraçando-a, ele adormeceu.

- Claro que pode contar com a minha discrição no assunto. Mesmo assim, vou tomar discretamente minhas providências para essa viagem. Não se preocupe.

Ela concordou e iria retirar-se para deixar Ava à vontade para escrever. Tocou no ombro dela, de leve em sinal de despedida.

No corredor de acesso aos aposentos reais, os guardas abriam passagem para a princesa real, Vivian, não fazendo nenhuma resistência a sua entrada.

Já na porta dos aposentos reais, quando preparava-se para deixar a rainha Ava, Letícia viu a chegada da princesa Vivian. Pela expressão dela, não parecia trazer boas notícias. Levando em conta o estado de Ava, Letícia ali permaneceu. Sairia no entanto, se pedissem privacidade.

Após receber a indicação de que a rainha se encontrava em seus aposentos, Vivian cruzou os corredores até alcançar o local. Ela não tinha hábito de ir entrando sem pedir para ser anunciada, mas era incabível tal formalidade perante à situação. Assim que a porta do quarto foi aberta, a loira se deparou com Leticia e Ava. Um pequeno calafrio lhe percorreu o corpo, arrepiando toda a coluna vertebral, e ela emudeceu, estática como uma estátua. Provavelmente, ela não ouviu com clareza o que a rainha tinha falado, distraída a pensar em como lhe contaria.

- Vossa Majestade ainda não sabe, não é... - tentava encontrar palavras e indicava com a mão para que Ava se sentasse - Aconteceu uma tragédia...

Letícia temia as piores notícias, e atendendo ao pedido do olhar de Ava ela ficou perto da Rainha para se necessário ampará-la da forma que pudesse. Temia particularmente por seu estado.