Nos bancos, assistindo a cerimónia, estavam as duas fiandeiras, tão absortas que mal notaram a chegada de William. Ele as observava em silêncio meditativo. Notou o cunhado mais adiante, que parecia também concentrado na cerimónia.
Aos poucos seus pensamentos lamentosos foram cedendo lugar à alegria de mais uma vez rever a irmã tão querida. Também tranquilo porque depois de tanto tempo, ela continuava ali diante dele, parecia feliz, segura e bem. O que mais ele poderia querer?
Era estranho pensar que tanto tempo se passara desde que ele a reencontrara pela primeira vez, após sua dolorosa partida de Portugal. A jovenzinha teimosa e irriquieta que ele abandonara em um convento, tornara-se uma mulher madura e responsável, já com filhos crescidos. Talvez mais uma década ou menos e viriam-lhe os netos.
William também não se sentia mais o mesmo, não era mais o jovem arrogante de antes, pois as responsabilidades o tornaram mais sereno. As perdas que sofreu também tiveram o seu papel, deixando-o mais taciturno, mas não amargo.
Seu velho amigo Yochanan morrera e mesmo que aquilo fizesse parte do eterno ciclo, foi algo que o abatera. Havia muitas coisas acontecendo no Norte, mesmo assim, ele não poderia deixar de ver sua irmã mais uma vez. Ele agora era pai novamente, e também veio para dar a Beatrix essa notícia.
No colo ele segurava um caixa delicada, em seu conteúdo havia uma linda
rosa de prata e uma carta.
A rosa tinha um significado importante para os Algrave, estava em seu brasão há muito tempo. Mas naquele dia, ele não queria ofertar a irmã aristotélica a rosa negra de Mór-Ríoghain.
Na verdade aquela flor embora estivesse ligada à Beatrix não era propriamente para ela. O irmão queria demonstrar através de um gesto amoroso que não se importava mais com as escolhas religiosas da irmã. O mais correto seria dizer que ele não só aceitava, mas que estava feliz com ela, independente do deus que ela desejasse seguir.
Além de pureza, rosas brancas era símbolo de amor incondicional, e era assim que ele se sentia por sua irmã Beatrix. Aquela rosa guardava ainda outros significados, uma vez que a rosa de prata era um símbolo de poder sobre o mal. Uma vez que sua irmã estava bem, aquela divindade não deveria ser tão ruim, e por isso ele se sentia agradecido. O presente era portanto para a igreja a qual ela se dedicava. O envelope em que ele colocara uma mensagem, estava selado com o timbre dos Algrave.