Beatrix ouvia com atenção as palavras do novo Senescal Diocesano, enquanto caminhavam próximo das muralhas. Ele parecia bastante empolgado em mostrar a obra e não revelava pressa alguma. Talvez por educação, ou talvez porque realmente estivesse apreciando expor a construção pela qual demonstrava orgulho e satisfação.
- Sim, eu sei, tenho me comunicado com o Monsenhor Nreis desde que ele retornou do retiro para tratamento de saúde. Na verdade a volta dele foi um choque para mim. Tive notícias péssimas e o considerava mesmo morto. Confesso que fiquei muito feliz e aliviada em saber que ele estava vivo e bem. Seria uma perda enorme não só para a igreja. Ele sempre trabalhou muito e é alguém realmente ativo. Foi meu professor no Seminário de Viana do Castelo quando ele era reitor, depois continuei meus estudo lá, e hoje sou a reitora. Também foi meu Tradutor Chefe no Frigidarium, quando comecei a trabalhar lá. Hoje eu desempenho esse trabalho. Tê-lo de volta é muito bom para a Igreja, ainda mais nesse momento. Como dizem os portugueses, ele é "uma mais valia".Ainda que nascida e criada em Portugal, Beatrix se pegava falando assim, por culpa do irmão, que enquanto esteve com ela, a criou de forma diferente, criou-a à maneira dos Algrave. Ela sorriu ao notar esse hábito que aflorava de vez em quando, pois pensou no irmão querido, que sempre vinha visitar-lhe nos últimos tempos. Especialmente preocupado com ela depois dos graves ferimentos que ela sofreu que a deixaram à beira da morte. Ele parecia sempre temer o pior e se preocupava com a sua segurança. Ainda sorrindo com as lembranças do irmão, ela comentou.
- Também tenho novidades, fui convidada pelo Monsenhor para ser Condestável Diocesana. Fiquei um pouco receosa do convite. Primeiro porque apesar dos meus estudos em teologia, eu sou uma fiel não ordenada, apenas uma diaconisa na verdade, e minha área de estudo ultimamente tem sido a medicina. Depois eu estou me distanciando da vida militar há algum tempo. Meus antigos ferimentos de combate ainda me perturbam e não sou mais uma adolescente. Sou agora uma senhora e sou mãe de um belo rapazinho. Mas creio que o que conta aqui e agora seria a minha experiência e não minha força física. Por isso, creio que devo aceitar.Beatrix sorriu, ciente que sua aparência não demonstrava de fato força física. Mesmo exalando vivacidade e mantendo os mesmos olhos vivos e curiosos de sempre, a baronesa não era uma figura que alguém chamaria de forte à maneira tradicional, pois além de não ser alta, até mesmo seus gestos eram delicados. Chegava a ser curioso que alguém como ela fosse também militar e por tanto tempo. Não à toa seu trabalho mais conhecido era na heráldica. Isso certamente parecia combinar mais com alguém do seu feitio. No entanto, a espada estava sempre ali, à cintura. Mesmo quando ela vestia belos vestidos, nunca estava desarmada. A lâmina permanecia oculta. Era uma promessa que ela fizera ao irmão. Suas palavras soavam calmas e sinceras, ela conversava com o senhor Nicollielo como se os dois fossem velhos amigos. Se sentia a vontade com o clérigo bem mais velho que ela, cujos cabelos brancos lhe lembravam vagamente uma figura que ela perdera recentemente, alguém que ela considerava praticamente um segundo pai, o seu querido amigo prior.
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