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[RP] Bosque dos Pomos Dourados

Vitelius
AVISO: Este RP é aberto a todos que quiserem participar, desde que não venham a causarem mudanças drásticas no enredo (morte de personagens ou destruição do cenário).

Para arcos mais elaborados ou mudanças como as ditas anteriormente, favor contactar o jogador via mensagem.




O oásis no meio da cidade não se encaixava com o restante do ambiente urbano. Vielas traziam de diferentes ângulos, o acesso a um espaço aberto, onde as janelas das casas não testemunhavam os acontecimentos de tal distinto lugar.

Os muros abraçavam o misterioso bosque no meio da cidade. Apenas uma única faixa de pedras lavradas e talhadas adentravam entre as árvores frondosas que cresciam em ambos os lados da trilha esbranquiçada.

Adiante, a trilha abria-se em um círculo para abrigar o lago alimentado pela fonte onde as ninfas eram perseguidas pelos sátiros, enquanto belas criaturas marítimas jorravam aos céus as águas de oculta origem.

Seguindo poucos passos adiante da fonte, as Musas de granito cortejavam aqueles que em sua presença caminhassem para adentrar a casa principal. Na varanda onde confortáveis bancos estavam disponíveis aos visitantes, uma única porta dava acesso ao interior, caso o viajante fosse permitida entrada.

Era ali, na companhia de Erato coroada com flores campestres e uma lira dourada que Vitelius olhava o cair das águas da fonte.

Seu semblante quieto estava assim desde algumas horas atrás, observando um sátiro correndo atrás de sua ninfa, inflamado pela paixão que ela lhe negava, privando-o de seu convívio.

Uma gentil brisa agitou as folhas das árvores, deixando os fios de cabelos cor rubra agitaram-se desordenadamente na cabeça da ninfa que andava com desleixo, abandonando sua magia inexplicável enquanto ganhava os contornos de uma garota qualquer em péssimo estado.

- Senhor? Está me ouvindo?

A voz feminina quebrou o encanto das divagações do mecenas, trazendo-o de volta para a realidade que rondava-lhe.

- Quem é você?

O rosto esbranquiçado, as sardas, em grande número e impossíveis de serem ignoradas, marcavam a face da frágil criatura que destoava daquele lugar lúdico. Porém, havia algo intenso em seu olhar, o que cativou a atenção do jovem com o qual conversava

- Ernesinda.

- Que fazes tu neste lugar?

- Estava andando pelas vielas da cidade e aqui vim parar.

- Adentras qualquer lugar que vês, Ernesinda? Não tem quem a acompanhe?

O semblante da garota mudou, e um véu de sofrimento recobriu suas feições juvenis, enquanto sua resposta saia como um suspiro de cansaço

- Sou solitária como o nome que carrego. Por quê te importa se adentro este jardim, pois não vejo guardas nem impedimentos.

Vitelius poderia responder aquilo de muitas formas, mas a intensidade no olhar da garota desarmou sua reprimenda. Logo, tomado de súbito impulso, deixou novamente o véu mágico recair sobre seus olhos, e finalmente compreendeu.

- Sei porque estás aqui, mesmo que tu não o saibas. Venha, tenho muito a lhe mostrar, pois há de deixar tua solidão para trás.

Um frio na espinha correu no corpo cansado de Ernesinda. Naqueles dois anos, descobrira que não havia gentilezas naquele mundo cinzento, e aquele estranho homem em tão estranho lugar era sinal de problemas.

Mesmo temendo por sua segurança, não tinha nada a perder e então perguntou com voz tímida

- Como te acompanharia, se nem mesmo sei onde estou e nem o teu nome? És tu o dono deste lugar?

Vitelius, com um sorriso e mão estendida, disse

- Cada coisa a seu tempo, por hora, digo-te isto: Bem vinda ao Bosque dos Pomos Dourados!
Aurae


A chave encontrou a fechadura em um beijo silencioso. O belo bosque era tão envolvente que uma ação humana como aquela parecia um sacrilégio à suntuosidade natural que caia como poderoso feitiço

A porta da casa se abriu, e logo o mundo era outro. Sedas roxas caiam como a aurora sobre a dupla que adentrava, enquanto a porta era fechada atrás de ambos.

Afastaram o tecido para poderem passar como se dividissem a realidade em um portal, levando-os para outro lugar.

Estavam agora em amplo salão, onde uma fonte em tamanho menor que a do lado exterior jorrava cristalina água em uma bacia menor, causando um estranho e reconfortante sentimento.

Ao lado direito de onde estavam, um longo balcão de madeira impedia que qualquer pessoa tentasse inspecionar o que acontecia no cômodo interior, a cozinha, de onde saiam as oferendas tentadoras.

Em um galpão abaixo da cozinha, escondido como segredo, estava o depósito de toda sorte de néctar divino à disposição pelos módicos cruzados que custavam.

Uma bela senhora e um homem muito simpático cuidavam de servirem as comidas e bebidas, disponíveis de acordo com o tilintar das moedas.

- Aqui é apenas o início de uma breve jornada para lhe mostrar do que se trata este lugar. Elaine e Tiago estão a disposição para servirem tudo quanto teu coração desejar.

Ernesinda, muito desconfiada, não prestava atenção na dupla de atendentes, afinal já conhecera o funcionamento de tais serviços, pois fora frequente visitante das mais refinadas tavernas de Viseu.

- Para que estas coisas? É exagero todo este complexo para uma tasca!

Vitelius lhe sorriu, seguindo o olhar da garota. Ao redor do espaço, havia algumas mesas com boa distância entre si, onde finos assentos adornavam as cadeiras dignas da nobreza.

Também, em alguns cantos, havia não mesas altas, mas baixas, rodeadas apenas de almofadas em exuberantes cores, que deixavam transparecer certa ingenuidade infantil.

- Não estamos em uma taverna, mas sua amarga ignorância será passageira.

- Tanto mistério para apenas isto e...

Com um sobressalto, seu coração bateu forte, afinal logo pensou, seria feita escrava e de alguma forma geraria o lucro necessário para sustentar um lugar caro como aquele.

Horrorizada por aquela possibilidade, tateou em busca da faca que aprendera a levar, devido aos perigos da vida nas ruas e logo bradou

- Decrépito! Não sou tão indefesa para me obrigares a qualquer coisa!

Vitelius, depois de um momento sem ação, respondeu

- A porta está trancada para os de fora, mas nunca aos de dentro, ingênua criatura. Se for sua vontade, podes deixar este lugar agora ou a qualquer momento. Caso contrário, pode me seguir na pequena jornada que lhe propus.

Ernesinda, com uma sensação de embaraço lhe assombrando, não desfez seu teatro

- Só continuarei se conseguir enxergá-lo à minha frente, pois nada impede que me assalte desprevenida quando estiver maravilhada pela riqueza desta mansão!

Com um aceno, o jovem foi adiante, atravessando novo véu de extraordinária beleza, deixando a escolha de ser seguido ou abandonado para a órfã desavisada.
Vitelius


Subiram as escadas de madeira adornadas com detalhes dourados, belas muitas flores e pomos.

Chegaram até o segundo andar, onde havia três extensos corredores, com diversas portas em ambos os lados, cada qual ostentando palavras em línguas antigas, esquecidas pela maioria da população dos dias atuais.

Fitas roxas, vermelhas e prateadas recobriam paredes, corredores e pilastras. Distando alguns metros uma da outra, entre os espaços entre as portas, havia pinturas retratando belas cenas, uma pequena exposição de arte.

Nas pinturas de cores joviais, belas paisagens campestres amalgamavam em cenários irreais onde inocentes criaturas dançavam e fundiam-se à natureza. Poetas, sátiros, animais, ninfas, musas e o restante do panteão de míticas criaturas estavam expostos em atividades lúdicas, as quais jamais seriam experimentadas de igual maneira no mundo real.

Caminharam por um daqueles corredores. Vitelius seguiu em silêncio, deixando que Ernesinda absorvesse o ambiente ao seu redor, bebendo com exagerado cuidado o significado tanto das pinturas como da decoração em geral.

O jovem homem que conduzia a pequena jornada, revia as cenas tão profundamente enraizadas em sua mente.

Aqueles quadros mantinham um diálogo silencioso com ele, a cada momento revelando um significado que anteriormente lhe era desconhecido.

Que mitos e lendas como aquelas era de seu conhecido não constituía nada excepcional, afinal de contas, dificilmente uma pessoa não tinha ciência básica da cultura grega ou romana. Porém, ele havia imergido de tal forma naquele mundo anunciado por Platão e por tantos outros, dos tempos antigos e atuais, que quase conseguia tatea-los como se ali estivessem presentes, e não prisioneiros das molduras e encarcerados nas tintas sobre a tela.

No fim do corredor onde estavam, uma solitária e enorme janela, com os vidrais coloridos, representando uma cena dificilmente passível de descrição sem alarmar algumas sensíveis almas, filtrava os raios solares para que assumissem uma miríade de cores.

Duas pequenas estátuas de pedra branquíssima, mármore marfim, representavam uma mística dupla, figura masculina e outra feminina, infundidas com o simbolismo pungente da mitologia grega, que tanto prezava os contornos expostos para detalhar a própria humanidade.

Foi ali que ambos pararam. Ernesinda, que até então mantinha total silêncio, deixou seus olhos atravessarem o vidral de muitas cores para repousar sobre as árvores lá fora. O verde desapareceu, dando espaço para que também as árvores vestissem, emprestadas, as roupas de Íris.

Vitelius deixou que ela dialogasse com o ambiente ao seu redor. Afinal de contas, ele era nada mais do que um mero guia, e tudo ao seu redor falava mais claramente do que quais queres palavras humanas.

O resultado daquela breve jornada, portanto, estava longe de suas mãos. Talvez por isto houvesse um pouco de apreensão, muito bem cimentada debaixo da aparente calma e casualidade que tentava demonstrar.
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