Vicenzo Leopoldo aguardava o inicio das suas aulas de catequese quando recebeu o convite para o batismo de sua prima Aravis. Pereceria que havia se tornado uma tradição que a última filha de Dom Domingos, e portanto a atual matriarca dos Viana, se tornasse a madrinha de seus muitos parentes quando estes oficializavam sua pertença ao rebanho aristotélico. Mas era este grande amor e amizade que Vivian sempre demonstrou para com todos seus parentes, próximos ou mais distantes que a faziam a principal escolha para madrinha por aqueles que lhe pediam a honra de contar dentre os seus afilhados.
Dirigindo-se à Capela Portuguesa, Leopoldo Vicenzo Montenegro Viana, imaginava que ainda estava distante o dia que ele mesmo seria batizado pois havia decidido esperar até seu retorno às terras de suas origens para tal, mas até lá estudaria e aprenderia tudo o que seria possível aprender sobre a fé aristotélica e a Santa Igreja.
Vestia-se de forma simples, a camisa vermelha e as calças pretas eram arrumadas mas singelas, sem muitos adornos. Talvez fosse a espada que pendia em sua cintura, proteção necessária nas estradas europeias, o único distintivo de suas origens, pois nela estavam as marcas de sua família, a águia dos Viana e o Leão dos Montenegro.
De rosto magro e olhos claros, cabelos desgrenhados e desarrumados pelo capuz que pendia da capa de viagem, o jovem aguardou sentado ao inicio da cerimônia, observando todos os detalhes e imaginando como seria quando fosse a sua vez de fazer os votos aristotélicos.
Aravis Aravis Almara chegou à Capela de Portugal em Roma. Parecia bastante jovem e provavelmente não deveria ter mais que dezesseis anos. Seu aspecto no entanto, era sóbrio e austero demais para uma jovem daquela idade. As cores e a simplicidade indicavam provavelmente um meio-luto, pois os trajes eram de boa qualidade.
Ela trajava um vestido azul escuro com detalhes em azul claro nas longas mangas e no sobrevestido. Ao pescoço usava o colar que era de sua mãe, com contas de cristal azul e madeira de ébano com um pingente de ônix e filigranas de prata. Fora isso não havia mais nenhum ornamento.
Seus cabelos eram de um negror profundo e muito lisos, escorriam pelas espaduas displicentemente. O tom escuro fazia um contraste com a pele muito pálida de seu rosto e pescoço. Parte do seu cabelo estava trançada e presa atrás da cabeça e amarrados com uma fita azul. Alguns fios soltos teimavam em cair-lhe sobre os olhos, que eram de um tom verde acinzentado. Os traços eram bastante delicados e a jovem era magra e de estatura mediana.
Ela entrou, cumprimentou o arcebispo com uma vênia e beijou-lhe o anel. Estava um pouco nervosa. Notou que alguém mais chegara e ela cumprimentou o recém-chegado com um aceno de cabeça.
Ficou se perguntando se era alguém da família de seu pai, um Viana. Ela sentou-se e ficou aguardando sua prima, a quem ela conhecia apenas por cartas mas que aceitara recebê-la como madrinha. Aravis estava somente há alguns dias em Portugal e pouco falava, primeiro por ser tímida, segundo porque ainda tinha um leve sotaque e ela desejava observar e ouvir mais a fala local, para amenizá-lo, antes de expor-se.
Ela permaneceu silenciosa em oração aguardando o momento do seu batismo.
Aravis A jovem estava sentada, já um pouco inquieta, ainda que não demonstrasse. Aquela era uma situação um tanto incomum. Ela olhava curiosa cada uma das pessoas que entrava, sem ter a certeza se tratavam-se ou não de parentes. Quando a Dama foi até ela e se apresentou, Aravis esboçou um sorriso tranquilo. Ela levantou-se e fez uma vênia.
- Muito prazer, Dama Vivian, sou vossa prima Aravis Almara Zelenko Viana. Agradeço muito que tenha atendido meu convite para ser minha madrinha, mesmo sem me conhecer pessoalmente. Cheguei há poucos dias em Portugal. Espero que compreenda.
Ela disse, ao mesmo tempo se apresentando e tentando explicar-se. Sua fala tinha um leve sotaque provençal que ela se esforçava em ocultar. Não queria parecer rude aos parentes de seu falecido pai, ainda mais se ela esperava realmente viver naquela terra.
Vicenzo Quando sua prima chegou, inicialmente não a reconheceu, afinal nunca antes a havia visto. Ela era bem mais jovem que ele, ou ao menos aparentava tal, mas tinha um aspecto taciturno que fazia com que Leopoldo não conseguisse discernir a sua idade exata, mas sabia pelas cartas que havia trocado com sua outra prima que seria a madrinha, que ela não deveria ter muito além de quinze anos.
Ao fim a reconheceu como sua prima apenas quando a jovem cumprimentou o arcebispo. Retornando o cumprimento com a cabeça quando este lhe foi dirigido. Como a jovem havia em seguida se sentado e parecia estar orando, Leopoldo deixou-a para suas reflexões naquele momento tão importante.
Quando sua outra prima, Dama Vivian, com quem já havia trocado cartas mas quem ainda não conhecia chegou e se apresentou, o jovem se aproximou das duas Viana no momento em que Aravis se apresentava. Assim que ela terminou ele então se apresentou.
- Muito prazer Dama Vivian, Senhorita Aravis, meus sinceros parabéns por este dia tão especial. Sou Leopoldo, vosso primo. - Quão auspicioso era que o primeiro encontro daqueles três se desse justamente em um local sacro. Assim pensava Leopoldo. - Que grande alegria é finalmente poder colocar um rosto aos nomes e palavras que tão gentilmente trocamos nestes últimos tempos Dama Vivian, e muito obrigado por estender-me o convite e permitir-me este encontro com vocês. - ele agradeceu com um sorriso sincero.
Aravis Aravis sorriu, pois sentia-se de fato acolhida. Havia muito que desejava conversar com seus parentes, mas talvez aquele não fosse o momento mais adequado. Quem sabe depois da celebração.
- É um enorme prazer conhecer a ambos. Espero ter a oportunidade de visitá-los quando possível, depois que me instalar devidamente em Portugal. Creio que o Monsenhor deve estar apenas nos aguardando para começar.
Ela sorriu novamente, estava um pouco ansiosa pelo batismo. Acenou para Dom Palladio indicando que sua madrinha havia chegado.
Aravis Aravis se aproxima acompanhada de sua madrinha. Ela está um pouco nervosa, mas tenta parecer calma.
Ela aguarda a confirmação da madrinha e pede ao Altíssimo que a deixe menos tensa. Afinal, é algo simples e ela apenas manifestará o desejo de unir-se a Grande Família Aristotélica e confirmar sua fé no Altíssimo.
Palladio Então Palladio iniciou o sermão do Batismo lendo um excerto da obra Ética de Nicomaque:
Quote:A amizade é a coisa mais necessária para viver. Porque sem amigos, ninguém escolheria viver, mesmo tendo todos os outros bens. É na pobreza assim como na desgraça, os homens pensam que os amigos são o único refúgio. A amizade também é um auxílio para os jovens porque lhes guarda do erro; para os velhos, lhes afiança os cuidados e a ajuda que sua falta de actividade e fraqueza trazem consigo; e para aqueles que estão na sua idade culminante, lhes incentiva a professar acções nobres, porque se torna mais capaz para pensar e actuar.
- Que a palavra de Aristóteles te guie e a revelação te ilumine!_________________
His Eminence Palladio Monforte | Roman Elector Cardinal | Cardinal of St. John of the Martyrs | Vice-chancellor of the Congregation for the Dissemination of the Faith | Metropolitan Archbishop of Evora | Count of Orvieto & Viscount of São Bento | Professor at Seminário Menor de Viana do Castelo