Milene
Milene introduziu a chave na pequena ranhura e respirou fundo antes de forçar a fechadura ferrujenta a acatar os seus desejos. Com um clique ruidoso a porta abriu-se e a jovem mulher empurrou-a cautelosamente, temendo que uma nuvem de pó se levantasse subitamente em revolta pela intromissão após tantos anos de negligência. Envolta em escuridão, a nova assistente do planeamento da cidade do Porto tacteou o ar bafiento em busca da janela que sabia estar por ali algures coberta por uma espessa cortina carcomida por traças. Veio a encontrá-la na parede mais afastada da porta e num gesto de rebeldia arrancou o pano num só movimento, levantando o pó que ali se acomodara havia anos e que lhe provocou um ataque de tosse. Com os olhos humedecidos por lágrimas, Milene abriu a janela e debruçou-se sobre o parapeito, observando distraidamente a praça e os habitantes que por ali se encontravam àquela hora vespertina.
- Jah me ajude. - Suspirou em voz baixa, ciente de que ninguém a ouvia naquele momento. - Tanto para fazer e tão pouco tempo para o alcançar...
Determinada, Milene voltou-se e, pela primeira vez, observou o gabinete que agora era seu. A pequena divisão era dominada por uma secretária de madeira maciça onde se encontravam variados pergaminhos, tinteiros e penas, assim como um castiçal que suportava uma vela sem pavio. Por trás da escrivaninha, uma estante que ocupava a parede de lés-a-lés, palmo-a-palmo, e que continha os mais diversos livros de capa dura e mole todos eles relativos à topografia da cidade do Porto. Em frente à secretária duas cadeiras forradas a pele de porco tingida de negro que se adequariam à recepção dos mais diversos emissários. A parede em frente era ocupada por uma mapa da cidade do Porto que providenciava detalhe espantoso sobre ruas e ruelas, palácios e demais elementos habitacionais de cariz mais singelo.
Todos os assuntos devem ser abordados no contexto da personagem e nunca sobre a perspectiva da mecânica do jogo.